Uma cesta cheia de delícias, como pães, cucas e biscoitos, à disposição de quem tem fome. É só chegar e pegar. Esta é a proposta da ação solidária promovida pela Padaria Miolo do Pão, que fica no bairro Barnabé, em Gravataí. Há cerca de um mês, os proprietários passaram a oferecer as doações bem na entrada do estabelecimento.
Desde que o local abriu as portas, há 13 anos, é comum que pessoas apareçam por lá pedindo alimentos. Mas, muitas vezes, a situação gerava vergonha em quem precisa de ajuda.
— A pessoa tinha que entrar, falar com quem estava no caixa, pedir na frente de outras pessoas. Gerava um certo constrangimento para elas — afirma Mariana Dornelles Ignácio, uma das proprietárias da empresa familiar.
A ideia da cesta veio das redes sociais:
— Vi uma publicação de uma padaria em outro Estado que fez uma ação parecida. As pessoas aderiram, gostaram, e achei que seria uma boa ideia implementar aqui também, para ver como seria o retorno.
Mariana não sabe dizer quantas pessoas aparecem por dia para buscar os pães, mas a cesta, que começa a ser preenchida logo após o meio-dia, geralmente termina o expediente, às 21h, vazia.
Aprovado
Na tarde desta quinta-feira (21), uma chuva fina e fria caía quando o reciclador Fernando Ferreira da Silva, 50 anos, apareceu na Miolo do Pão em busca de alimentos. Em situação de rua há cinco anos, ele está em Gravataí há sete meses e passa algumas noites por semana em um albergue da prefeitura que fica próximo da padaria.
— Nesse tempo, já vim várias vezes aqui, e nunca me negaram algo para comer. Antes, eu ficava meio constrangido. Tem horas que a gente chega sujo por causa da reciclagem, sei que nem todo mundo gosta. Mas a gente vem pedir quanto está com muita fome. Então, eu vinha mesmo assim — conta ele.
Fernando aprovou a iniciativa da cesta.
— É uma coisa maravilhosa, exemplo pra todo mundo. Eu nunca tinha visto nada assim. Pelo contrário, tem gente que já diz que não tem nada para não aparecer morador de rua – ressalta o reciclador.
Apenas o necessário
A cesta fica à disposição de todos, não é preciso pedir autorização para levar um alimento. O único pedido é que se leve apenas o necessário, para que mais pessoas sejam beneficiadas.
— É interessante ver que todo mundo respeita isso. Geralmente, cada um leva um item. Quem leva mais faz questão de explicar que vai levar para um amigo que já está no albergue ou para um familiar que não consegue vir — diz Mariana.
Os funcionários do local, desde que a iniciativa começou, são orientados a explicar aos clientes sobre a ação. Eles podem comprar produtos para “rechear” um pouco mais as doações. Uma das atendentes da Miolo do Pão, Sabrina da Silva, 23 anos, diz que a aceitação é boa também entre os clientes:
— Eles gostam do formato. A maioria já pede para a gente fazer um saquinho com alguns pães a mais, para colocar na cesta.