Das churrasqueiras abastecidas com carvão e lenha do Acampamento Farroupilha subia uma fumaça branca ao céu cinzento de Porto Alegre neste domingo (8). Dentro dos piquetes construídos no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho — 354 no total —, assava-se diferentes cortes, mas se destacavam os tradicionais costelões de 6, 12 ou 24 horas. Antes das 15h deste domingo, uma dessas janelas de carne salgada já descansava sobre a brasa tímida em um dos galpões, anuviando o entorno e contribuindo na fumaceira que nublava o parque. Há quem exagere afirmando que só se verá o sol em Porto Alegre novamente depois do dia 22 de setembro, quando se encerram as celebrações da Revolução Farroupilha de 1835 e quando, por consequência, a fumaça será vencida.
— Aqui o negócio é bruto mesmo. Esse céu nublado é culpa nossa. Pode acreditar — ironizava Jovildo Bronks, de 34 anos, enquanto bebericava uma caipira ao lado de um fogo de chão.
Esse bairrismo permite que o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) projete visitas de 1 milhão de pessoas até o fim do evento. O vice-presidente Campeiro da entidade, Vanderlei Eufrasio da Rosa, disse que os primeiros dias foram a contento, com vendas acima do esperado no comércio montado no interior. A contabilidade do fim de semana será feita nos próximos dias.
— Apesar de o tempo ter prejudicado um pouco, falei com o pessoal que vende e todos estavam com o sorriso lá nas orelhas — comentou.
O pequeno Benjamim Menezes dos Santos, de dois anos, estava no parque acompanhado do pai, o eletricista Juliano Mendes dos Santos, 35 anos, e de uma gaita de fole infantil. Desde os primeiros meses de vida, o menino visita o parque montado para festejar a tradição.
— Ele adora esse ambiente. Não pode ver cavalo que fica todo faceiro. Anda de bota e bermuda em casa. Não quer tirar por nada — orgulha-se o eletricista de Cachoeirinha.
O chão enlameado, com poças de água por todo o lado, era uma das reclamações dos visitantes. Maria de Lourdes Abrantes, 54 anos, recomendou a colocação de brita nas vielas para facilitar o passeio em dias chuvosos. A sugestão foi compartilhada pelas duas filhas que a acompanhavam e pelo pai do Benjamim, que não estava junto do trio, mas corroborou a ideia. Por outro lado, há quem defenda que o parque deva seguir como está, "sem muito luxo", como definiu o empresário de Canoas Mario Cerqueira, 44 anos.
— Fui criado em uma estância de chão batido. Hoje moro no asfalto. Esse barral que se forma aqui, quando chove, é até bom. Um acampamento de verdade tem de ser sem muito luxo mesmo — comentou.
No ano passado, o evento terminou com prejuízo de R$ 600 mil. Para reverter a queda, o MTG está trabalhando com a meta de redução de 30% nos custos e aumento de 30% a 35% no faturamento. Neste ano, o tema é Vida e Obra de Paixão Côrtes, morto em 2018, aos 91 anos.