Aulas com drones, notebooks novos, espaço atrativo, climatizado e com instrutores preparados para ensinar até mesmo como editar vídeo e ter canais no YouTube. Essa é a oferta que 400 estudantes de escolas municipais de bairros carentes de Porto Alegre receberam para não ficar em casa ou nas ruas durante o turno inverso ao do colégio, em um projeto-piloto da prefeitura.
Nesta terça-feira (20), uma sala de 42 metros quadrados, feita em um contêiner, foi inaugurada no pátio da escola municipal Mario Quintana, na comunidade conhecida como Vila da Paz, no bairro Restinga, no extremo sul da cidade. O espaço destoa do restante do colégio: com piso laminado, móveis novos, notebooks e mesas para trabalhos em grupo para até 100 crianças. O ambiente foi denominado de "Maker Space", termo em inglês que faz referência a um lugar para aprender fazendo.
O custo da prefeitura é de R$ 220 por aluno que participa do programa, valor que paga as refeições, o trabalho dos instrutores — chamados de mentores — e o investimento em tecnologia. São R$ 22 mil mensais para cada uma das quatro escolas, totalizando R$ 1 milhão por ano. O valor é pago para o Instituto Besouro, parceiro da Secretaria Municipal da Educação (Smed) na iniciativa. A entidade fica responsável por pagar os professores, pelos equipamentos e pela metodologia do que é ensinado.
— É um espaço que vai funcionar de segunda a sexta-feira, por três horas. Os alunos vão seguindo trilhas dentro das sete belas artes que nós trouxemos para o mundo digital pensando nas profissões do futuro. É totalmente conectado com a escola regular. O que nós fazemos é potencializar o ensino. Por exemplo, de manhã há aula sobre tabuada e, de tarde, elas vão ver o drone subindo baseado nos números que aprenderam — diz Vinicius Mendes Lima, fundador do instituto.
Além da escola Mario Quintana, outras três já tiveram salas reformadas para receber o projeto: a Dolores Alcaraz Caldas, na Restinga, a Presidente Vargas, no Passo das Pedras, na zona norte, e a Décio Martins Costa, no Sarandi, também na zona norte. Para cada uma das salas revitalizadas, contabilizando a compra dos equipamentos, o custo ao poder público foi de R$ 25 mil.
A diretora pedagógica da SMED, Maria Clara Bombassaro Callegari, explica que a seleção dos alunos que participam é feita pela direção da escola, que analisa o perfil dos estuantes que estão interessados em ficar no turno inverso. Segundo ela, apesar das aulas com estímulo da criatividade, o projeto não deixa de lado os quatro eixos de aprendizagem do currículo complementar: letramento, numeramento, iniciação científica e educação sensível.
— É extremamente importante para as crianças porque para elas o prazer de estar na escola faz toda a diferença. Eu conversava com algumas meninas que diziam-se desafiadas a vir. Elas estão fazendo blogs, vídeos, instigadas a aprender. Não é só fazer o que eles têm interesse, mas é também dar noções de compreensão, raciocínio lógico, leitura e domínio daquilo que vai dar base para construções futuras — declarou.
Estudantes aprovam projeto
Era possível ver os olhares de curiosidade das crianças que participaram do lançamento do espaço. Elas já vinham tendo aulas há um mês no turno inverso na escola, mas ainda de forma inicial.
Marina dos Santos Pedroso, 12 anos, sonha em ser atriz ou tatuadora. Ela diz que adora ficar no colégio e que o projeto a está ensinando a perder a timidez.
— Eu gosto muito da literatura e das aulas de cinema. A gente está fazendo nosso blog agora também. Se eu não estivesse aqui, estaria em casa ajudando minha mãe a cuidar das coisas — comentou.
Vitor Corrêa, 11 anos, sonha em trabalhar na construção de robôs. Para ele, as atividades são muito legais, e os professores ajudam a pensar diferente do que estão acostumados a ver. Assim como Marina, diz que adora as aulas de cinema e que vai ter um canal de YouTube para mostrar o que faz no futuro.
Secretaria quer ampliar vagas de turno integral
O secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito, declarou que a inauguração do espaço segue o objetivo da pasta de ampliar as vagas de aulas em turno integral. Atualmente, a rede municipal de Porto Alegre tem pouco mais de 7 mil alunos tendo aulas de manhã e de tarde. O objetivo é ofertar em mais 3 mil para o próximo ano. O único entrave possível é a dificuldade financeira: a Lei de Diretrizes Orçamentárias encaminhada pelo Executivo à Câmara prevê déficit de R$ 336 milhões para 2020.
— Estamos na definição da lei do orçamento. Fizemos a solicitação do recurso e estamos no aguardo das definições que virão para que a gente confirme isso. Mas a nossa exceptiva é fazer esse aumento e executar no ano que vem — declarou o secretário.
Além do Instituto Besouro, outras 21 entidades trabalham com a prefeitura para o turno integral nas escolas públicas.