Se a inauguração da Arena mudou a vida de dezenas que passaram a trabalhar no bairro Humaitá, a mudança da casa gremista afetou comerciantes da Azenha. De mais de uma dúzia de bares que tinham a venda de bebidas em dias de jogos como renda principal, apenas dois seguem abertos na Avenida Dr. Carlos Barbosa. Ambos ostentam o nome do Olímpico Monumental em suas fachadas.
Há 25 anos aberto entre a Rua Dr Aurelio Py e a Avenida Oswaldo Rolla, o Olímpicos Bar há muito perdeu o lema estampado em seu banner frontal: "Point Tricolor".
— Antes eu tinha TV a cabo e enchia o bar. Quem não ia no campo, vinha olhar aqui. Não dava pra caminhar aqui dentro — relembra a proprietária, Juraci Badin, 62 anos, apontando para as mesas vazias.
Além da família, vinda do Vale do Taquari para a Capital nos anos 1980, trabalhavam outros cinco funcionários em dias de maior movimento. Hoje, permanecem no bar apenas os dois filhos e outro colaborador "que dá uma mão no buffet", conta a comerciante.
— Diminuiu em mais da metade o número de gente no bar. Eu abria aos domingos, hoje não tem mais movimento pra isso — explica, constrangida, afirmando que a renda também reduziu pela metade desde o fechamento do estádio.
Nesta quinta-feira (4) , o filho Álvaro Badin, 43 anos, começava a fazer o fogo na churrasqueira às 8h.
— Mais pra espantar o frio, porque o movimento ta baixo — afirma, em tom de brincadeira.
O buffet com churrasco é servido para 50 pessoas, na média diária, acompanhando a queda registrada nas vendas.
— Se voltasse o campo pra cá, seria muito bom — sonha Juraci com um sorriso esperançoso.
Bar virou restaurante para não fechar as portas
Também na Avenida Carlos Barbosa, o Bar Olímpico mantém a vocação apenas no nome. Para não fechar as portas, o proprietário retirou os refrigeradores que antes mantinham a bebida pronta para o consumo e transformou o espaço em um restaurante.
— Tive que me readaptar. Tinha quatro freezers de bebida na entrada. Agora, é só restaurante pra servir almoço. Pra sobreviver foi assim. Senão, tinha fechado — explica Valmor Conte, 60 anos.
O empresário diz ter contado mais de 14 estabelecimentos semelhantes ao seu que fecharam nos últimos anos.
Natural de Nova Bréscia, a Terra dos Churrasqueiros, considera que a saída da sede gremista tenha afetado 70% do seu rendimento.
— Demiti metade das pessoas que trabalhavam aqui. Quando vinha excursão do Interior pros jogos, eu vendia até 300 almoços num dia só. Agora, não vendo isso nem em uma semana — lamenta.
Apesar das lembranças de uma época de maior fartura, ele não pensa em desistir.
— Se estou há 15 anos aqui, é porque fiz algo de bom. Tem que encarar, não adianta desistir. Se eu for pra outro lugar, pode piorar. Prova meu churrasco, vai ver como é bom — oferece, ao preço de R$ 12.