Era início de 2002. Às vésperas do Carnaval daquele ano, em uma das gravações do programa Personagens da Folia, da TVCOM, Cláudio Brito foi até a Vila Maria da Conceição, na zona leste de Porto Alegre. O personagem da vez era Mestre Papai, liderança da Academia de Samba Puro.
Depois de percorrer o morro e ouvir os integrantes da escola, Brito chegou ao pátio da modesta casa de Mestre Papai. Ao ser entrevistado, o anfitrião entoou, à capela, o samba enredo da escola de 1989 (veja abaixo). No final da letra, enquanto a imagem enquadrava apenas o carnavalesco, Brito fez sinal ao câmera e ao diretor do programa e disse aquela que seria uma de suas frases mais conhecidas:
— Fecha em mim que eu vou chorar!
Embora não tenha ido ao ar naquele momento, a frase virou uma brincadeira – viva até hoje – na redação da Rádio Gaúcha e da RBS TV e acabou conhecida pelos gaúchos anos mais tarde por intermédio de Paulo Sant’Ana, que, segundo Brito, teria aumentado um pouco a história:
— Em uma das participações do Sant’Ana no Pretinho Básico, na Rádio Atlântida, o acusaram de ser muito exibido, megalomaníaco. E ele disse: “Vocês estão sendo injustos: ególatra é o Cláudio Brito”. E contou a história como se eu tivesse ordenado que as câmeras fechassem em mim durante uma transmissão ao vivo do desfile de Carnaval, não na gravação do Personagens da Folia. Ele fez esse folclore, eu protestei e o Pretinho me levou para um direito de resposta, para contar a história verdadeira — conta o comunicador.
Depois, a frase ainda faria parte do clipe de final de ano do programa humorístico, em 2010. A essa altura, o bordão já era conhecido pelos ouvintes e espectadores.
Brito lembra da história com detalhes e, apesar da brincadeira de Sant’Ana e do elenco do Pretinho, diz que, em nenhum momento, forçou a emoção ou o choro em frente à câmera.
— O Mestre Papai foi cantando aquilo e eu percebi que estava me emocionando. Não falseei a emoção, eu a aproveitei. Acharia censurável se eu fingisse. Agora, acho altamente correto para o programa mostrar que terminei chorando com o Mestre Papai. E eu vou perder essa cena? – lembra o apresentador, que diz ter explicado a história dezenas de vezes, inclusive durante o Sala de Redação, na Gaúcha.
O comunicador, que relembrou o fato em uma postagem nas redes sociais nesta quinta-feira (6), ainda arrisca uma promessa:
— Se um dia eu fizer um livro, esse será o nome. "Fecha em mim que eu vou chorar".
O samba que fez Cláudio Brito chorar
É Morro, é Favela, é Gueto, é Quilombo
Autor: Eugênio Silva Alencar
É o dia que o doutor compreender
Que quem vive lá no Morro
Também te direito a viver
A viver
Viver com dignidade
Sem opressão sem maldade
Então tudo vai mudar
Eu vou ser tratado como gente por aí
Terei casa e comida e um trabalho aonde ir
As crianças todo dia irão à escola estudar
E a velhice terá condições de descansar
Veja bem
Enquanto este dia não vem
Sou o grito, sou a luta, sou a voz de quem não tem
É morro, é favela
É gueto, é quilombo
É samba é quizomba meu povo
Eu farei no reino da folia
Um tema onde a alegria
Será real, porque a gente está feliz
Vai ser lindo ver a minha escola
Evoluindo na avenida
No melhor dos carnavais
Vou cantar
Vou pular
Samba Puro vem com tudo
Quando a coisa melhorar