Uma sequência de falhas operacionais culminou no acidente que matou o técnico metroviário Carlos Ivan Horn Ribas, 56 anos, na tarde de 7 de janeiro. O trabalhador foi atropelado por um trem enquanto fazia inspeção dos trilhos da Trensurb, próximo à Estação Anchieta, em Porto Alegre. Um relatório que apurou as causas do acidente, elaborado pela Trensurb e apresentado à direção da empresa em fevereiro, ao qual GaúchaZH teve acesso, aponta que o não cumprimento de diversas regras de segurança resultaram no primeiro acidente de trabalho fatal em via da história da empresa.
A assessoria da presidência da Trensurb reconhece que "todos os aspectos vulneráveis da operação se alinharam", causando o acidente que matou Ribas. Desde então, a empresa reduziu ao máximo o acesso de funcionários de manutenção de trilhos na via por recomendação do Ministério do Trabalho.
Em depoimento à comissão que elaborou o relatório, o condutor do trem que atropelou Ribas disse não sabia que havia uma equipe (com dois servidores) próximo à Estação Anchieta, pois não tinha sido informado pelo Centro de Controle Operacional (CCO). A degravação dos áudios das conversas registradas pelo sistema de rádio da empresa mostram que o CCO, localizado na estação Mercado, fez uma chamada geral a todos os operadores de trem às 13h39min, avisando que havia equipe de manutenção próxima à Estação Anchieta. E também solicitou que os operadores usassem "marcha à vista no trecho" — isso significa diminuir a velocidade para 30 km/h.
Porém, o condutor do trem que atropelou Ribas partiu de Novo Hamburgo 10 minutos depois, às 13h49min, e disse, em depoimento, que não ouviu o alerta do CCO. Ele afirmou que durante todo o percurso não recebeu informação de que uma equipe trabalhava próximo à Estação Anchieta e que não havia aviso no quadro da sala de operadores de Novo Hamburgo, de onde o trem partiu.
A norma determina que, toda vez que há uma equipe de manutenção na via, o CCO deve avisar, por rádio, os operadores de trem. E eles devem responder que receberam a orientação. As salas de operadores, nos dois extremos do sistema, nas estações Mercado e Novo Hamburgo, devem fazer o mesmo, anotando no mural o local exato em que há equipes trabalhando. A degravação de áudio mostra que a regra não foi seguida naquela tarde.
O relatório confirma também que o operador "em momento algum do seu deslocamento entre Novo Hamburgo e o local do acidente recebeu a informação da presença da equipe no trecho". Por isso, "obviamente, não pode cumprir a obrigação de comunicar o recebimento da orientação repetindo o comando via rádio e executar o procedimento de marcha à vista". A análise do tacógrafo do trem aponta que o veículo passou pelo ponto do acidente a 80 km/h.
No momento do atropelamento, Ribas estava anotando informações sobre a condição do trilho, de costas para os trens que trafegavam no sentido NH-Capital, enquanto seu colega estava de lado, de frente para a pista. Como estavam próximo ao entroncamento da freeway com a BR-116, o ruído do tráfego de veículos teria prejudicado a percepção da aproximação do trem.
Às 14h25min, o trem 114 atropelou Ribas e cruzou a um palmo de distância do capacete do colega que o acompanhava na inspeção — este não se feriu. Ribas, que trabalhava na Trensurb há cinco anos e vivia em Esteio, morreu na hora. Deixou esposa e um filho.
O caso também é investigado pela Polícia Civil e pela Superintendência Regional do Trabalho. Titular da 4ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, Cristiano Reschke, responsável pela investigação criminal do caso, afirma que, até o momento, se verificou que o fato envolve homicídio culposo (sem intenção de matar). Segundo ele, a apuração, agora, tenta identificar os envolvidos na negligência:
— Não há nada que comprove que o operador sabia da presença da equipe no local. Já se identificou que houve uma falha de comunicação. Agora, estamos apurando onde ocorreu a falha para atribuir responsabilidade criminal a título de culpa. Estamos averiguando se foi um erro de fase inicial ou se foi uma sucessão de erros. Precisamos comprovar quem realmente teve o conhecimento de que havia equipes na via e não passou essa informação adiante.