Desde meados dos anos 1980, quando ainda era criança, a bióloga Bianca Darski Silva tem recordações ruins em relação às chuvas. Segundo ela, nessa época, duas grandes cheias, em 1984 e 1986, fizeram com que o apartamento térreo onde vive com os pais na Rua Padre Ângelo Corso, bairro Cavalhada, zona sul de Porto Alegre, alagasse. O medo virou uma constante. Apesar disso, o temor só se tornou realidade novamente a partir de 2008.
O problema se repetiu com as fortes precipitações ocorridas na noite de sexta-feira (26) e madrugada deste sábado (27).
— Pelo menos duas ou três vezes por ano, nossa casa fica inundada. Toda a chuva é uma apreensão, se vai ter de levantar sofá, trocar o carpete — desabafa Bianca, contando ainda que todos os móveis do lar foram feitos sob planejamento para ficarem o mais distante possível do chão.
— A máquina de lavar, por exemplo, fica em cima de uma caixa de madeira.
A bióloga aponta duas possíveis causas para o problema. Uma é o fato de o local onde reside ser em área rebaixada perto de uma praça, o que faria com que a água acumulada na área de lazer coletivo escoasse para sua moradia. Outra é a proximidade com o arroio Cavalhada, que frequentemente transborda.
Somados, esses fatores fazem o líquido brotar por todos os lados.
— Vem do ralo e da rua. É um desespero, demora cerca de quatro horas para baixar — diz Bianca, complementando que chegou em casa na sexta-feira (26) por volta da meia-noite e teve de ficar, junto com a família, limpando a casa até por volta das 5h de sábado.
Além do transtorno e do cansaço, físico e mental, há outras consequências.
— As baratas e o mau cheiro, pois a água entra junto com o esgoto, fica por uma semana, mais ou menos. Além disso, a gente tem medo que água possa atingir a parte elétrica e causar algo mais grave conosco em casa.
De acordo com Bianca, um grupo de vizinhos afetados frequentemente pelos estragos deve buscar ajuda novamente com o Ministério Público.
Segundo o síndico do Condomínio Edifício Três Pinheiros, o contador Vinícius Conceição Moreira, 31 anos, vários moradores já procuraram a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) para pedir providência, mas não houve solução. Ele mesmo abriu um protocolo em 13 de março.
— Minha esposa também fez o mesmo (registrar uma reclamação), além de outros moradores — destaca Moreira.
A Secretaria, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que "a prefeitura informa que realiza frequentemente a limpeza das redes pluviais existentes nas vias e está verificando a inserção do arroio na lista de locais para a receberem os serviços de dragagem."
Confira a nota da SMSUrb na íntegra:
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) atuou desde a madrugada deste sábado, 27, para minimizar os impactos do temporal que em 12 horas quase atingiu a média histórica de chuvas de todo o mês de abril. As equipes da Coordenação de Águas Pluviais (CAP) estão trabalhando em casos de alagamento ou acúmulo de água. Com relação ao entorno do arroio Cavalhada, a prefeitura informa que realiza frequentemente a limpeza das redes pluviais existentes nas vias e está verificando a inserção do arroio na lista de locais para receberem os serviços de dragagem.
Desde o início desta gestão, em 2017, a prefeitura conseguiu ampliar a capacidade de operação das casas de bombas de 40% para 80% e busca melhorias, extinguindo contratos que foram alvo de investigações de irregularidades em 2016, e implantando novos com foco na fiscalização e controle dos serviços.