A água cristalina que passa por terrenos do bairro IAPI, na zona norte de Porto Alegre, e cai no meio-fio da Rua Dom Pedrito intriga moradores. Há cerca de dois anos, o líquido sai de uma fonte misteriosa — até hoje, ninguém descobriu sua origem.
A água escorre 24 horas por dia de um cano instalado por um morador para desviá-la de seu terreno e ir para a rua. Aparentemente limpa e sem cheiro, segue lomba abaixo até o esgoto, passando pela frente de mais duas casas.
O advogado Fernando Palmeiro, 50 anos, foi quem organizou o caminho para o esgoto, já que antes a água ficava acumulada na parte de baixo da rua, atraindo mosquitos e deixando calçadas intransitáveis. Ele conta que já fez solicitações para a prefeitura, mas ninguém descobre o que é:
— Já abrimos protocolo diversas vezes, e eles costumam vir aqui, mas ninguém descobre a solução adequada. Recebi na minha casa vizinhos que achavam que eu tinha cano estourado, mas não é nada disso. Comentam que seria uma fonte no bairro.
Preparador de veículos, Sílvio Veloso Júnior, 37 anos, tem a casa diariamente invadida pela água. Ele chegou a preparar uma canaleta junto à parede que se estende até a rua.
— No começo, o barulho da água caindo parece calmante, mas, quando ouvimos todo dia, se torna uma incomodação — reclama.
O medo na região é de que o solo possa ceder. Os moradores mais antigos do bairro dizem que a fonte não é nova. Elaine Dias, 60 anos, que sempre morou na mesma casa na Rua Dom Pedrito, lembra que nos anos 1970 a fonte era ponto de encontro de adolescentes, que brincavam na água. Após algumas reclamações na época, teria sido feita uma obra que a escondeu.
— Disseram uma vez para nós, há muito tempo, que a água seria de uma fonte nas proximidades do cemitério do Higienópolis. De uns anos para cá, ela veio de novo — conta a moradora.
Para Elaine, a água é limpa e "melhor do que a da torneira". Vizinhos enchem garrafas, assim como moradores de rua. A prefeitura, porém, não recomenda a ingestão.
Gerente da unidade ambiental do Centro de Vigilância em Saúde, Alex Lamas afirma que Porto Alegre tem 13 fontes coletivas monitoradas em diversos pontos da cidade — o que não é o caso do bairro IAPI, que não era de conhecimento da equipe. A maioria delas está contaminada com coliformes fecais ou bactérias.
Segundo Lamas, a água pode ser usada para lavar calçadas ou carros, mas em hipótese alguma deve servir para consumo humano.
— Pode ser um lençol freático jorrante, geralmente é o que ocorre — declara, informando que deve enviar uma equipe ao local nos próximos dias.
A prefeitura foi contatada por GaúchaZH e afirmou que vai apurar o que ocorre no bairro.