Primeira experiência de semáforo reversível em Porto Alegre, o sistema implantado na Avenida Wenceslau Escobar, na Zona Sul, desde o fim do ano passado, ainda sem dados consolidados sobre o impacto na circulação, já apresenta reflexos no humor dos condutores que trafegam pela região nos últimos meses.
Nesta segunda (11), no retorno das aulas do Colégio João Paulo I, um dos mais próximos do trecho que teve a sinalização alterada, a aprovação foi unânime entre os motoristas ouvidos pela reportagem. Todos relataram estar economizando tempo com as mudanças feitas pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) no trajeto entre a Avenida Coronel Marcos e a Rua Professor Xavier Simões.
– Quando estavam arrumando foi um transtorno, mas agora ficou bem melhor – afirma a engenheira Melissa Meneghetti.
Moradora do bairro Tristeza, ela passa pelo trecho diariamente no começo da manhã e no início da tarde, para levar e buscar a filha na escola. A engenheira recorda que houve transtornos durante a implantação das mudanças, entre julho e outubro, época em que os congestionamentos, que já proporcionavam dores de cabeça aos condutores, ficaram ainda piores.
Com a liberação do trecho, em novembro, uma das três faixas de circulação passou a ter sua sinalização voltada para onde o volume de veículos é maior: das 22h às 15h, fica verde no sentido bairro-Centro, e das 15h às 22h, na direção contrária.
O magistrado Amílcar Macedo, que geralmente passa pela via no começo da tarde para se deslocar de Ipanema, onde mora, ao trabalho, na região central, acredita ter economizado até 20 minutos em seu trajeto após a mudança.
– Acho que ficou muito bom. Na hora de pico, chegava a parar o trânsito ali – lembra Macedo.
Para o motorista Helder Monteiro, 60 anos, a nova sinalização representou alívio. Também morador do bairro Ipanema, ele costuma passar pela Wenceslau Escobar, no mínimo, seis vezes ao dia, incluindo os horários de maior movimento.
– Muito fiquei parado naquele trecho. Agora, melhorou bastante. Não dá mais tranqueira – relata.
Dados sobre impacto de sinaleira reversível ainda serão coletados
Conforme a EPTC, ainda não há dados consolidados sobre os reflexos do semáforo reversível no trecho. Um monitoramento deve começar em março, quando a rotina de tráfego estiver mais próxima do que os condutores enfrentam ao longo do ano. As avaliações preliminares, porém, são positivas.
– Como foi implantado bem no final do ano, em ritmo de férias, a gente vai ter de esperar o retorno das aulas para ter definição. Mas a maioria dos relatos que temos são positivos, tanto para quem circula de carro quanto para o transporte público – diz o gerente de planejamento de trânsito e circulação da EPTC, João Paulo Cardoso Joaquim.
A estimativa do órgão é de que os condutores tenham um ganho de cerca de 15 minutos nos deslocamentos. A sinalização não foi a única mudança no trecho: também foi retirado canteiro e feito alargamento da via na altura da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). A implantação das melhorias custou R$ 85 mil – dos quais cerca de R$ 15 mil foram bancados por doações de moradores e comerciantes da região por meio do aplicativo EufaçoPOA.
Especialista diz que iniciativa é benéfica
O professor de engenharia civil da Unisinos João Hermes Junqueira acompanha a percepção de motoristas e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) sobre o semáforo reversível implantado na Avenida Wenceslau Escobar. Segundo o pesquisador, é uma operação viária de baixo gasto que costuma beneficiar a circulação.
– Uma via custa muito caro. Se a largura permite que essas faixas sejam implementadas, é uma medida altamente inteligente, que vai trazer benefícios muito grandes para quem mora ali – diz o professor.
Iniciativas semelhantes foram implantadas em outras capitais como Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo há alguns anos. Segundo Junqueira, vias que têm circulação pendular, com um volume de tráfego maior em um sentido do que no outro em determinados horários, são as mais adequadas para esse tipo de operação.
A inversão de faixas de trânsito é adotada em duas outras vias da Capital: na Avenida Oscar Pereira e na Estrada João de Oliveira Remião. Em ambas, no entanto, a alteração é feita de forma manual, com agentes de trânsito no local. Segundo a EPTC, não há previsão de outros pontos para a implantação de semáforos como o da Wenceslau Escobar.