Era 3h20min do último domingo (27) quando Eduardo de Oliveira, 37 anos, acordou com um barulho alto no quarto. Ele, que dormia perto do filho de cinco anos, resolveu abrir as janelas para entender de onde vinha o ruído. Deu de cara com a parte externa do ar-condicionado sendo consumida por chamas. Enquanto tentava apagar o incêndio, a esposa, Carolina de Amorim, 39 anos, passou mais de 20 minutos tentando, sem sucesso, acionar os bombeiros: ao ligar para o 193, a ligação, feita no apartamento no bairro Lindoia, em Porto Alegre, era desviada para o batalhão de Guaíba, a cerca de 40 minutos da Capital.
— Quem me atendeu lá (em Guaíba) disse que deixaria o telefone fora do gancho e pediu para eu tentar de novo. Mas aí só dava ocupado, porque continuava caindo no batalhão de lá. Eu tentei o 190, mas também ia para Guaíba — relata Carolina.
Instrutor de velas, Oliveira tem curso de primeiros socorros para combate a incêndios e conseguiu agir rápido quando constatou as chamas. Desligou a chave geral do apartamento, acordou Carolina — que dormia no outro quarto com o filho menor do casal, de dois meses —, e buscou o extintor com carga de pó no corredor do prédio.
Enquanto isso, Carolina tirou as crianças do apartamento e passou a bater na porta de vizinhos, pedindo ajuda. A ideia era deixar os pequenos em segurança e voltar para ajudar o marido, mas ninguém no andar acordou. Do corredor do prédio, ela também seguia tentando acionar o Corpo de Bombeiros, mas a ligação caía em Guaíba.
Depois de algumas tentativas, Carolina conseguiu acordar uma vizinha. Ela conta que, mesmo em celulares diferentes, as ligações eram desviadas para a cidade a 30 quilômetros da Capital. Uma chamada também foi feita para um batalhão perto do prédio, mas ninguém atendeu.
Foram mais de 20 minutos de agonia, até que uma das ligações para o 190, feita do celular da vizinha, caiu em Porto Alegre. A BM encaminhou, internamente, a chamada para o corpo de Bombeiros da Capital.
— Em cinco minutos, eles estavam aqui, isso foi rápido, mas não tinha mais o que ser feito — conta Carolina.
A jornalista conta que é comum que ela durma sozinha com as crianças, já que o marido trabalha, muitas vezes, de madrugada.
— Se estivesse sozinha, minha reação seria pegar as crianças e ir embora, não ia ter frieza para apagar o fogo. Teria atingido a casa inteira, o prédio. Foi assustador. Ninguém soube nos explicar por que isso aconteceu.
A Secretaria da Segurança Pública, à qual o Corpo de Bombeiros está subordinado, se manifestou por meio de nota:
" Conforme o setor operacional do Departamento Integrado de Comando e Controle da SSP e foi informado que não ocorreu nenhuma inconsistência nas ligações de emergência. Todos os dias são realizados relatórios de auditorias para verificar possíveis erros. O efetivo do 190 foi ampliado, justamente para não gerar congestionamento nas linhas. No entanto há possibilidade de ter ocorrido algum problema no GPS dos aparelhos que reconheceu a localidade de forma errada, porém não houve nenhuma ocorrência interna de erro nas ligações."