A temperatura máxima em Porto Alegre registrada na terça de Natal (25) foi de 30,3ºC, mas essa medida de referência esconde variações significativas entre diferentes pontos da cidade.
Um levantamento realizado por GaúchaZH com um termômetro portátil mostra que alguns dos locais preferidos pela população para momentos de lazer apresentam até seis graus centígrados de diferença. Fatores como a cobertura de árvores e o tipo de revestimento do solo são fundamentais para intensificar ou aliviar o calorão que deve marcar os próximos meses.
Quem quiser aproveitar o verão ao ar livre deve estar preparado para encontrar ambientes com microclimas — como se chamam variações locais de temperatura, umidade e outros indicadores meteorológicos — bastante variados em algumas das principais atrações turísticas da Capital. A fronte da Fundação Iberê Camargo (ponto mais quente entre os seis percorridos pela reportagem) registrava 34ºC perto das 16h, por exemplo, enquanto o Parcão (região menos abafada daquelas pesquisadas), pouco depois, marcava suportáveis 28,1ºC.
A diferença de praticamente seis graus pode ser explicada, conforme o meteorologista Lucas Cantos, da Somar Meteorologia, pela existência ou não de arborização e o tipo de cobertura do solo. Enquanto a Fundação Iberê apresenta muito concreto e pouca vegetação, o Parcão oferece sombra e solo nu ou coberto por grama.
— A existência de cobertura que proteja da incidência direta da luz solar é um dos principais fatores para explicar as diferenças de temperatura. Além disso, o concreto reemite grande parte da radiação solar que ele recebe. Já onde existe grama, por exemplo, parte dessa radiação é convertida em energia para a própria planta ou difundida para o solo. Como resultado, a reemissão ocorre em uma temperatura mais baixa — sustenta Cantos.
Variações na combinação desses fatores podem provocar contrastes no termômetro em poucos metros de distância. No Parque da Redenção, por exemplo, o calor era de 32,5ºC ao sol junto do Monumento ao Expedicionário, mas baixava para 29,6ºC a menos de 50 passos dali, em um ponto com árvores e grama. Já a diferença de clima entre um parque e outro pode ser explicada, também, pela temperatura média da cidade ao redor — que varia conforme a concentração de asfalto, concreto e vegetação.
Morador de Fortaleza em viagem a trabalho pela Capital, o técnico agrícola Augusto Falcão, 51 anos, aproveitou o feriado de Natal para circular pela cidade — mas com preferência pelos parques arborizados. Para amenizar o calor, visitou a Redenção e o Parcão, onde filmou uma família de patos e enviou as imagens para a namorada.
— Hoje (terça) não está muito diferente lá de Fortaleza. Mas há alguns dias, quando fez 37ºC aqui, estranhei muito. Lá em Fortaleza não faz um calor desses, não — contou o morador do Nordeste.
VARIAÇÕES DE TEMPERATURA
Fundação Iberê Camargo — 34ºC
Diante da construção, onde há muito concreto e não há sombra proporcionada por vegetação, a temperatura chegou a 34ºC — a mais alta entre os pontos de lazer percorridos por GaúchaZH. Nas imediações, mesmo na ciclovia da calçada oposta, havia poucas pessoas circulando por volta das 15h30min.
Orla do Guaíba — 33,8ºC
Próximo ao mirante de metal, onde há concreto e pouca vegetação, a temperatura era de 33,8ºC sob o sol. O concreto, que emanava um forte calor, estava a 39,1ºC. Em uma das poucas sombras disponíveis, o clima era menos desconfortável: 30,8ºC.
— Ficamos no restaurante. No sol, não tinha como ficar — disse o especialista em marketing Rodrigo Dutra, 37 anos, ao lado da mulher, da filha de três anos e de um amigo.
Corredor de ônibus da Erico Verissimo - 33ºC
Um dos pontos de lazer utilizados pela população aos domingos, quando a circulação de ônibus é bloqueada, apresentava 33ºC. Mas a temperatura do concreto, sob o sol da tarde, alcançava 38,7ºC.
Parque Marinha do Brasil — 30,5ºC
Com uma boa cobertura de árvores, o corredor central de um dos parques preferidos pelos porto-alegrenses marcava 30,5ºC. Mas, em pontos mais próximos à Avenida Padre Cacique, mesmo na sombra, a temperatura já subia um pouco e marcava 31ºC.
Redenção — 29,6ºC
Uma das áreas ao ar livre mais procuradas pela população marcava 29,6ºC à sombra, nas proximidades da José Bonifácio. Já diante do Monumento ao Expedicionário, o calor era de 32,5ºC.
— Como nosso filho quebrou a perna e não podemos ir à praia ou à piscina, optamos pela Redenção, onde o calor é um pouco menos intenso — comentou o funcionário público Celso Levin, 53 anos, ao lado da mulher e do filho, Miguel, de 10 anos.
Parcão — 28,1ºC
Outro dos parques mais tradicionais da cidade foi o ponto mais fresco entre os seis locais visitados por GaúchaZH. Sob as árvores, nas proximidades do lago, fazia 28,1ºC.
— Aqui é bom porque, além de ser mais fresco, o contato com a natureza permite espairecer um pouco — disse a bióloga Ana Paula Paim, 38 anos.