A prefeitura de Porto Alegre consegue fiscalizar a cada ano, em média, 29% das 170 obras de arte viárias existentes na cidade como viadutos, pontes e passarelas.
Limitações de pessoal e equipamentos impedem que todas as estruturas sejam averiguadas anualmente — o que seria o recomendado —, mas a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim) assegura que não há riscos estruturais iminentes. Dos 17 viadutos existentes na cidade, 15 foram inspecionados há menos de um ano sem registro de ameaças como a que colocou sob risco de queda uma obra na cidade de São Paulo.
Um levantamento realizado pela Smim a pedido de GaúchaZH demonstra que, entre os viadutos da cidade, apenas o São Jorge (na Avenida Bento Gonçalves) e o da rodoviária não foram revisados neste ano. Os dois estão entre as construções mais recentes da cidade. O primeiro foi entregue em 2015, e o segundo, em 2014, e, por isso, ainda não passaram pela vistoria de rotina. Entre os restantes, a fiscalização mais antiga data de março deste ano (Viaduto dos Açorianos).
— Não temos alguma preocupação grande como o incidente que houve lá em São Paulo, onde ocorreu um problema em um viaduto bastante antigo. Pelo acompanhamento que fazemos, dentro da nossa capacidade de pessoal, não verificamos nenhuma situação mais séria — garante o secretário adjunto da Smim, Alcimar Andrade Arrais.
Hoje, Porto Alegre conta com três engenheiros civis com pós-graduação em estruturas que respondem pelas inspeções cadastrais (realizadas logo após a conclusão das obras) e rotineiras (anuais) das obras de arte viárias. Não é o suficiente para dar conta de toda a demanda. Por isso, o município realiza uma espécie de rodízio: a cada ano, são vistoriadas aproximadamente 50 das 170 estruturas existentes na Capital, o equivalente a 29,4%.
— Pelo número de pessoal que temos, não conseguimos cobrir as 170 obras anualmente. Fazemos um planejamento que varia um pouco conforme o tempo, as intempéries. Mas esse trabalho já permite verificar quando é necessária uma análise mais aprofundada — diz Arrais.
A Norma NBR 9452 diz que toda obra de arte especial deveria ser vistoriada ao ser concluída, passar por revisões mais superficiais anualmente e por inspeções especiais, mais detalhadas, a cada cinco anos. Também prevê verificações extraordinárias quando há algum dano estrutural imprevisto causado, por exemplo, por um acidente. A equipe própria da Capital somente consegue realizar as cadastrais e as rotineiras — as demais exigem equipamentos especiais para a realização de testes mais sofisticados de que o município não dispõe. Nesse caso, é necessário contratar empresas terceirizadas para o serviço.
O professor de Patologia das Construções da Unisinos Bernardo Tutikian afirma que a falta de uma inspeção anual não é tão preocupante porque a deterioração das estruturas costuma se estender por muito tempo. Ele afirma que a qualidade da vistoria é tão ou mais importante do que a regularidade.
— É importante avaliar todos os elementos, fazer um trabalho bem fundamentado — sustenta Tutikian.
Município estuda contratar empresa especializada em vistorias
Como a equipe própria da prefeitura de Porto Alegre não é suficiente para realizar todas as vistorias previstas em normas, e o município não conta com os equipamentos necessários para análises mais detalhadas, a atual gestão estuda lançar uma licitação para contratar uma empresa terceirizada que preste esse tipo de serviço.
Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), porém, a contratação é dificultada pela penúria financeira do município. Assim, até o momento, não há previsão de quando um edital poderia sair à rua. Também não foi orçado quanto custaria terceirizar parte das vistorias.
— Não faria muito sentido contar com uma empresa para fazer vistorias rotineiras e outra para fazer análises especiais, mais aprofundadas. O ideal seria contratar uma empresa com capacidade e disponibilidade para fazer tudo. Mas ainda não temos calculado quanto isso custaria ao município — observa o secretário adjunto da Smim, Alcimar Andrade Arrais.
A contratação de uma equipe terceirizada permitiria avaliar anualmente todas as 170 obras de arte especiais existentes na cidade e realizar as averiguações mais detalhadas previstas para ocorrer a cada cinco anos, além de inspeções extraordinárias em caso de necessidade.
Questionada sobre qual o cenário encontrado em viadutos e pontes da Capital atualmente, a Smim não detalhou o percentual de obras que se encontram em bom estado ou com necessidade de reparo. Em nota, a secretaria informou que "em boa parte das obras de arte especiais vistoriadas foram observadas falhas/defeitos que necessitam de intervenções corretivas ou pequenos reparos. Porém, não apresentam sinais de instabilidade estrutural, deformações e vibrações excessivas, como também pontos de esmagamento e ruptura do concreto, que comprometem o estado de funcionalidade e segurança".
Confira quando foram as últimas vistorias nos viadutos
Como funcionam as vistorias
A norma NBR 9452 prevê quatro tipos diferentes de inspeções
Cadastral
Primeira inspeção após o término da obra, ou realizada após alguma alteração substancial como um alargamento de uma ponte.
Rotineira
Inspeção programada, a ser realizada no prazo de até um ano, com o objetivo de identificar qualquer anomalia ou falha em desenvolvimento na estrutura.
Especial
Inspeção mais detalhada que geralmente envolve a realização de ensaios e medição sobre a estrutura, visando adotar as informações necessárias para a recuperação. A cada cinco anos.
Extraordinária
Inspeção não programada. É feita quando ocorre algum dano estrutural significativo decorrente de ações imprevisíveis como o choque de veículos ou inundação com abalos da estrutura.
Obras de arte especiais
- 17 viadutos
- 31 pontes
- 72 pontilhões
- 1 Túnel
- 1 Passagem inferior
- 10 Passarelas
- 38 travessias de pedestres (passarelas menores)