Quem traz um problema para o Conselho Tutelar (CT) da Restinga, na zona sul da Capital, ganha outros tantos. Logo ao entrar, sente-se um odor de mofo. Se o dia for chuvoso, a área de recepção ganha baldes para conter as goteiras. Imagina as crianças correndo no entorno.
Em épocas de calor, há sofrimento por falta até de ventiladores. E quem precisa ir no banheiro? É bom saber que a porta não fecha. Se alguém ajudar, pode ficar com a maçaneta na mão. Dentro do sanitário, ser rápido é fundamental. O local não tem ventilação, pois era um grande cofre – o prédio, quase sem janelas, com infiltrações no teto, já foi uma agência bancária.
Ou seja, o cenário é de penúria na unidade que atende à demanda de seis bairros da Zona Sul: Belém Novo, Chapéu do Sol, Lageado, Lami, Ponta Grossa e Restinga. A média semanal é de 50 atendimentos.
– Ficamos constrangidos em receber as pessoas aqui. Há mofo nas paredes, salas sem iluminação adequada... Precisamos dar soluções a casos graves e não temos nem bebedor funcionando – lamenta o conselheiro Vagner Tavares.
Os problemas na 7ª Microrregião de Porto Alegre vem se agravando neste ano. Um dos motivos: o aluguel do imóvel está atrasado há cerca de seis meses. Com isso, segundo os conselheiros, não há manutenção. A prefeitura admite o débito. E vive uma dúvida: tenta a renovação do espaço, quitando os atrasados, mantendo um local que já é referência para a população, ou leva o Conselho Tutelar para um prédio público.
– A definição não deve demorar. Certo é que precisamos melhorar o ambiente neste CT, mantendo sua localização na Restinga. A mudança de endereço é a opção mais próxima – afirma a secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esportes, Denise Russo.
Insalubre
A chance de saída do atual prédio ficou mais fortalecida após a visita de uma arquiteta, a pedido da prefeitura. Foi constatado que a situação está insalubre. O destino mais provável é a sede dos Centros de Relação Institucional Participativa (Crip). Conforme análises iniciais da prefeitura, pequenas adaptações precisariam ser feitas em uma parte ociosa do prédio da Crip da Restinga Nova.
– Precisamos ter mais agilidade nestas questões. Estou empenhada pessoalmente em resolver o problema – finaliza Denise, sem dar um prazo para a resolução do assunto.
Prejuízo no bolso dos conselheiros
A falta de manutenção do prédio do CT, aliada à crise financeira do município, estoura no bolso dos conselheiros. Os cinco que trabalham na Restinga já fizeram vaquinha para comprar um ar-condicionado para uma sala. Compras menores são frequentes.
– Para não piorar ainda mais a situação, precisamos colocar nosso dinheiro em materiais como torneiras, fechaduras, lâmpadas. Sem falar no material de escritório. Precisamos fazer malabarismo para cumprir nossa missão aqui – afirma o conselheiro Vagner.
Assunto já chegou à câmara
A penúria do prédio do Conselho Tutelar da Restinga foi debatida na Câmara de Vereadores no final do mês passado.
Segundo a promotora de Justiça Inglacir Delavedova, que representou o Ministério Público Estadual, é importante que a população tenha o CT como um local de referência. Inglacir salienta que o MP não vê problema em mudanças de endereço, mas faz ressalvas:
– Deixar de pagar aluguel é importante para economizar verbas, mas os locais escolhidos precisam ter boa estrutura e acesso fácil à população.