A Polícia Civil irá instaurar inquérito para apurar suposto caso de racismo ocorrido neste domingo (17) em Porto Alegre, durante prova do Conselho Federal de Contabilidade. Uma advogada e contadora, que pediu para não ser identificada, relata ter sido constrangida por uma fiscal de prova a prender os cabelos antes do início do exame. Conforme boletim de ocorrência registrado na 17ª Delegacia da Polícia Civil, a profissional entrou na sala e se preparava para começar a prova quando foi advertida.
— Tu vais ter de prender o cabelo — teria dito a fiscal, apontando o dedo para a contadora.
— Mas por que eu? Tem um monte de gente de cabelo comprido aqui. Por que só eu? — questionou a moça.
— Tu vais ter de prender o cabelo para fazer a prova — teria insistido a fiscal.
Segundo o relato da vítima, outras pessoas que prestavam o exame também reclamaram da atitude da fiscal, mas teriam sido orientadas a permanecer em silêncio. A profissional prendeu o cabelo, fez a prova e, ao final, procurou dois coordenadores do exame. Os dois homens, funcionários da empresa contratada para realizar o concurso, levaram-na para uma sala e chamaram a fiscal, que foi orientada a pedir desculpas.
A fiscal se desculpou, mas a contadora decidiu registrar ocorrência do caso na Polícia Civil. O titular da 17ª DP, delegado Fernando Edison Soares, diz que irá verificar o boletim de ocorrência nesta segunda-feira (18) e chamar a contadora para prestar depoimento.
— Depois vamos ouvir as outras pessoas, testemunhas e a mulher que teria praticado o ato de racismo — diz Soares.
A Polícia Civil não divulgou os nomes das pessoas citadas na ocorrência. Segundo a direção do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, o exame foi todo organizado pela conselho federal da categoria, sem qualquer ingerência da unidade gaúcha, inclusive na contratação da empresa que aplicou a prova. No domingo, GaúchaZH tentou contato com a empresa, Consulplan, e com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), mas ninguém atendeu às ligações.
Na manhã de segunda-feira (18), ambos enviaram posicionamentos. O CFC diz que repudia "qualquer ato de discriminação", e vai solicitar à empresa o esclarecimento dos fatos. A Consulplan afirma que vai apurar o que ocorreu, e que também "repudia veementemente qualquer ação discriminatória". Veja as duas notas, na íntegra.
O que disse o Conselho
O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) esclarece que a Consulplan – empresa contratada pelo CFC mediante processo licitatório – é responsável por toda a operacionalização e aplicação das provas. A empresa, portanto, possui autonomia para realizar os procedimentos de segurança necessários à execução e à aplicação do Exame de Suficiência em todo o País. O Conselho Federal de Contabilidade solicitará à Consulplan o devido esclarecimento dos fatos para que medidas cabíveis, caso necessárias, sejam adotadas. Ressalta-se que o CFC repudia todo e qualquer ato de discriminação contra quem quer que seja, o que não corresponde aos valores e princípios defendidos por esta Autarquia.
O que diz a empresa
A CONSULPLAN, organizadora contratada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) para a operacionalização do Exame de Suficiência 1/2018, a respeito de notícia veiculada na data de ontem, tem a esclarecer que no momento da realização das provas são adotados diversos mecanismos de segurança para resguardar a integridade da seleção, incluindo a recomendação de que os participantes permaneçam com as orelhas à mostra. Tais orientações são emitidas pela fiscalização das provas indistintamente a todos, de forma padrão e uniforme em todo o país. A respeito do caso narrado, as devidas apurações serão realizadas e, caso seja constatado qualquer excesso ou conduta inadequada na prestação dos serviços, a instituição garante que excluirá quaisquer integrantes de suas equipes de fiscalização que incorram em tal prática. A organizadora repudia veementemente toda e qualquer atitude discriminatória, tendo orgulho de sua história de respeito à meritocracia na realização de certames seletivos e exames públicos ao longo dos mais de vinte anos de sua instituição, inclusive sendo pioneira na adoção de regras em seus editais que resguardam a diversidade étnica, racial, sexual e religiosa dos participantes dos processos.