Ocorrerá nesta sexta-feira (18) mais uma reunião envolvendo o grupo de trabalho que discute a situação da Ocupação Mulheres Mirabal, que ocupa há um ano e seis meses o prédio onde antes funcionou o Lar Dom Bosco, da Congregação dos Irmãos Salesianos, no Centro de Porto Alegre. A questão a ser avaliada pelos governos do Estado e do município é o destino do movimento que ampara mulheres que foram alvo de violência doméstica.
Antes de ser ocupado, o imóvel de três andares e pertencente à Inspetoria Salesiana São Pio X estava fechado há três anos. A principal justificativa da criação do movimento é a falta de serviços públicos direcionados a mulheres vítimas de violência doméstica ou em situação de vulnerabilidade. Neste período de ocupação, mais de 70 ficaram abrigadas no local e outras 200 passaram por atendimento. Uma delas é R., 35 anos, que, com o apoio da sogra, fugiu com os dois filhos menores das agressões constantes do companheiro. Os três atravessaram quatro Estados até chegarem ao Rio Grande do Sul e serem acolhidos pelo movimento.
— A Justiça gaúcha ofereceu abrigo apenas para as crianças, mas não queria me separar dos meus filhos. Aqui, tivemos assistência psicológica e todo o apoio. Encontramos uma família. Se nos tirarem daqui, voltaremos para a rua — relata R., que ainda procura um emprego.
Reconhecida por orgãos públicos, como a Polícia Civil — que costuma direcionar vítimas para atendimento — e o Ministério Público, a Ocupação Mulheres Mirabal tem voluntários nas áreas de psicologia, assistência social, direito e saúde. Acompanhando a distância a questão da reintegração de posse do prédio, o promotor da Ordem Urbanística do Ministério Público Estadual, Cláudio Ari de Mello, defende uma negociação com solução definitiva para a questão.
— A prefeitura e o Estado precisam olhar com cuidado para o Movimento. Elas têm um trabalho muito importante porque oferecem um serviço quase inexistente na cidade — salienta.
A declaração do promotor vai de encontro com a atual situação da Capital gaúcha. Porto Alegre tem apenas um centro de referência.
A diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres, Salma Farias Valencio, afirma que foram oferecidos alguns imóveis ao movimento ao longo do processo, sendo que por último o Estado ofereceu uma sala e dois apartamentos de forma provisória, enquanto aguarda a manifestação do município quanto a alguns imóveis e a posição do Movimento Mirabal a respeito.
Apoio da Igreja Católica
Nesta quinta-feira (17), a mobilização ganhou também o apoio da igreja católica. Depois de uma caminhada pelo Centro da cidade, integrantes do Movimento foram recebidos pelo secretário-executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre César Leandro Padilha, e tiveram seu apelo ouvido também pelo arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Frei Jaime Spengler.
— Conhecíamos o trabalho delas pelos meios de comunicação, mas precisamos estar presentes nesta luta. Vamos acionar os órgãos da Igreja que atuam na área de direitos humanos, como a Cáritas Brasileira e a Pastoral do Migrante, para que façam parte das negociações — afirmou padre César.
O jornal contatou com a Congregação, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social informou que só se manifestará depois da reunião desta sexta-feira.
QUEM FORAM AS MIRABAL
— Patria, Minerva e Antonia María Teresa Mirabal eram irmãs que viviam na República Dominicana.
— Conhecidas como irmãs Mirabal, formaram um grupo de oposição conhecido como Las Mariposas.
— As três foram presas e torturadas, mas continuaram lutando. Em 25 de novembro de 1960, ao comando de Rafael Leónidas Trujillo, foram interceptadas quando seguiam para visitar os maridos na prisão, sendo estranguladas e apunhaladas até a morte.
— Elas foram assassinadas por se oporem à ditadura de Trujillo.
— As mortes causaram comoção na República Dominicana, levando o povo a se levantar contra o regime de Trujillo, que acabou assassinado em maio de 1961.
— Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las Mariposas.