Cansados de esperar pela ação da prefeitura, moradores do loteamento Lagos de Nova Ipanema, no bairro Aberta dos Morros, em Porto Alegre, decidiram tirar do próprio bolso o dinheiro para a instalação de quebra-molas nas ruas. Embora estivessem cientes da ilegalidade do ato, eles relatam que a decisão foi uma medida emergencial após casos de atropelamento de crianças na região.
Agentes da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim) e da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) visitaram o local na quinta-feira (17), às 8h, após receberem uma denúncia sobre as lombadas irregulares. Com um caminhão e um trator, eles foram impedidos de acessar o loteamento pelos moradores. Uma hora depois, os funcionários deixaram o local.
— Os vizinhos fizeram uma barreira e não deixaram eles entrarem de jeito nenhum. Sabemos que não fizemos o certo, mas não tínhamos mais para quem recorrer. A prefeitura não atendeu nenhum dos nossos protocolos e nem o abaixo-assinado com 1.144 assinaturas que entregamos em 2014 — afirma o presidente da Associação de Moradores, Luiz Felipe Persson, 62 anos.
Segundo Persson, foram coletados R$ 5 mil em uma vaquinha entre os vizinhos. Com a contratação de duas pessoas ligadas à construção civil, foram instalados 10 quebra-molas em cinco das 17 ruas do loteamento:
- cinco na Rua Carlos Maximiliano Fayet
- dois na Rua Ivo Walter Kern
- um na Rua Canisio Binsfeld
- um na Rua Eroni Soares Machado
- um na Rua Francisco Solano Borges
— A nossa vontade é não perder os quebra-molas. Estamos certos de que essa é a única maneira para fazer com que os motoristas respeitem a velocidade de 30km/h, que é o que manda o código de trânsito em ambientes fechados. Estamos abertos a negociar locais e a quantidade das lombas, mas não abriremos mão — reitera o presidente da associação.
A empresária Ana Luiza Migliavaca, 43 anos, conta que o motivo para a instalação das rampas foi o elevado número de acidentes envolvendo crianças na região. A moradora teme por sua filha, de 10 anos, que costuma brincar nos arredores.
Em abril, uma criança foi atropelada enquanto andava de patinete. Foi a gota d'água para nós.
ANA LUIZA MIGLIAVACA
Empresária, moradora do loteamento
— Em abril, uma criança foi atropelada enquanto andava de patinete. Foi a gota d'água para nós. Pode ser a criança de qualquer um — diz Ana, que mora há seis meses na região.
O secretário municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Luciano Marcantônio, afirmou que não há nenhum protocolo registrado pelo telefone 156 e que não recebeu o abaixo-assinado. Ele confirma que a Smim e a EPTC foram até o local para averiguar a denúncia e destruir os quebra-molas, mas, "a operação foi cancelada" após a resistência dos moradores. Marcantônio afirma que ele próprio irá visitar o local até terça-feira (22) junto com especialistas para realizar uma vistoria técnica e "manter um diálogo com a comunidade".
— Os moradores podem ficar tranquilos. Não queremos prejudicar ninguém. Vamos adequar os quebra-molas já existentes dentro da lei ou tirar alguns para colocar outros — assegura o secretário.