Doutor em História da Arte e autor do livro A Escultura Pública de Porto Alegre, José Francisco Alves entende que o gradeamento é um recurso necessário para defender determinadas áreas do vandalismo e da violência. Confira trechos da entrevista concedida por telefone:
Qual o impacto da instalação de cercas e muros na cidade, incluindo monumentos e áreas públicas?
Em Porto Alegre, essa questão é muito delicada. No mundo inteiro, é simplesmente uma questão administrativa das cidades cercar ou não uma área. Aqui, é um tema ideologizado a extremos. Não vou nem falar de Nova York, Paris. Em outras cidades brasileiras mesmo como Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, por exemplo, determinados parques e praças são fechados e têm horário de visitação. Aqui, isso é considerado de outra forma.
Mas não há um prejuízo estético ou urbanístico quando se instalam grades, principalmente em áreas públicas?
Pode ficar feio, mas, às vezes, são até utilizados gradis bonitos. No mundo inteiro, à noite ocorre destruição do patrimônio. Aqui, não resta outra alternativa (além do cercamento). A questão é o custo elevadíssimo para áreas maiores. Na Redenção, recuperaram os monumentos de lá algum tempo atrás. Mas, de noite, vão lá e arrebentam tudo de novo.
O cercamento se justifica mesmo no caso de monumentos como a Fonte Talavera, na frente da prefeitura?
Em relação à Talavera, certa vez, durante um protesto (ocorrido em 2005), um débil mental subiu ali e danificou a fonte. No calor da emoção, às vezes os protestos tomam outra dimensão. O Monumento à República, em Paris, sofreu vandalismos em meio a protestos. Em seguida, foi recuperado. Mas, em Porto Alegre, como é uma cidade falida, fica difícil dar esse tipo de resposta. No caso da Redenção, o que as pessoas vão fazer lá à noite? É preciso proteger essas áreas, o patrimônio público, com cercamentos.
Não haveria soluções intermediárias?
Há outros mecanismos para cercar áreas, como instalar espelhos d'água. Em vez de colocar um gradil, pode colocar um espelho d'água, por exemplo. Pode colocar uma ponte retrátil. Quando anoitece, tira a ponte e deixa aquela área sem acesso. Mas acho que Porto Alegre não é uma cidade em que esse tipo de coisa vá ser feita. Acredito que a situação vai piorar. Porto Alegre está em uma crise civilizatória. Há um pequeno grupo que se preocupa com a preservação do patrimônio, mas é como falar para ninguém.
O que o poder público poderia fazer?
O Palácio Piratini tem um jardim lindo, por exemplo, mas o povo não conhece. No ano passado, em 25 de abril, eu estava em Lisboa e compareci à comemoração da Revolução dos Cravos no palácio de lá. O primeiro-ministro em pessoa recebia a população no jardim do palácio, onde havia um músico tocando piano, uma coisa civilizada. Aqui, o nosso Palácio Piratini é uma coisa lacrada, com um jardim lindo inacessível à população. Uma sociedade em que fazer esse tipo de coisa não é possível tem problemas.