A característica mais tradicional dos táxis da Capital pode deixar de existir. O vermelho ibérico — também conhecido como laranja — dos carros usados para o serviço em Porto Alegre dará lugar ao branco, caso o prefeito Nelson Marchezan sancione a mudança da cor aprovada pela Câmara de Vereadores no final de março. O projeto deve chegar na prefeitura até amanhã. A categoria, que segundo uma pesquisa do Sintáxi está dividida — 51% favoráveis ao laranja 49% à cor branca —, dá sinais de resistência à mudança.
GaúchaZH ouviu 50 taxistas na manhã de ontem na Estação Rodoviária e na Avenida Borges de Medeiros, próximo ao Largo Glênio Peres, dois dos mais movimentados pontos da Capital, e identificou uma tendência contrária à nova cor. Dos ouvidos pela reportagem, 42 apoiam a permanência do vermelho ibérico e apenas oito defendem o branco.
Entre os argumentos para a continuidade da cor, o mais repetido é a identidade que o passageiro criou com essa característica. Outros pontos levantados se referem à segurança e ao possível avanço da ilegalidade. Os motoristas dizem que o roubo a carros da cor atual é menor e defendem que o branco aumentaria a brecha para carros clandestinos ganharem espaço no mercado.
— É difícil para o ladrão esconder um carro vermelho. Se ele for revender, terá que pintar. Muito desmanche ilegal nem aceita peças de táxis — lembra Luciano Gomes Gil, 45 anos.
A taxista Jane Marcos, 58 anos, diz que, após ser roubado, seu carro foi localizado mais rapidamente por ser vermelho:
— É um retrocesso mudar.
Como quase todas as tentativas de mudança no serviço, o assunto gera muita polêmica na categoria. Enquanto a reportagem ouvia os motoristas na Estação Rodoviária, as discussões que brotavam entre eles evidenciavam o embate e as diferenças de ponto de vista também.
Os favoráveis à cor branca ressaltam a chance de economia ao comprar ou trocar o veículo, já que, se a mudança for aceita, não será mais necessário pintar ou envelopar o veículo com o vermelho ibérico. O próprio Sintáxi, entidade que representa permissionário e auxiliares, recomenda que a cada dois anos o veículo seja trocado.
— Na hora de negociar o carro, vai valer a pena ele ser branco — lembra Paulo Roberto da Rosa, 68 anos.
— A pintura original é faz toda a diferença. Dura muito mais e o branco tem um aspecto de novo — compara Nei Oliveira, 59 anos.
Dilema entre as entidades
A reportagem submeteu o resultado das enquete às duas entidades que representam a categoria na Capital. O presidente da Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi Porto Alegre (Aspertaxi), Walter Luiz Rodrigues Barcellos, defende a troca da cor como uma necessidade real em um cenário onde a quantidade de corridas caiu 50% com a chegada dos carros por aplicativos de celular:
— Não tem porque comprar um carro e mandar colocar outra cor. Não estamos ganhando mais, então, temos que gastar menos, para sobrar mais dinheiro. Tem muito taxista trabalhando de dia para comer de noite. Quem é contra as mudança são os auxiliares, que não gastam com nada, não compram carro. É o permissionário que tem essa despesa.
Quanto ao problema de identificação, levantado por quem quer a permanência do vermelho ibérico, defende que o prefixo luminoso não confundirá o passageiro:
— Hoje, não existe mais essa coisa de atacar o táxi com o braço na rua, as pessoas vão no ponto fixo ou chamam por aplicativo.
O diretor administrativo do Sintáxi, Adão Ferreira de Campos, é mais cauteloso. Acredita que, se realmente o prefeito sancionar a cor branca, a mudança pode ser usada de forma positiva, para qualificar mais o serviço e reconquistar o passageiro:
— A cor hoje não importa muito, achamos que não seria necessário mudá-la nesse momento, mas, se mudar, estamos orientando os motoristas a transformar essa situação em algo positivo.
Definição nos próximos dias
A Câmara aprovou em 28 de março uma emenda que prevê a mudança da cor dos veículos para o branco ao projeto do Executivo que estabelece novas regras para o serviço. A proposta é dos vereadores Moisés Barboza (PSDB), Ricardo Gomes (PP) e Comandante Nádia (PMDB). A assessoria de imprensa da prefeitura informou que ainda não recebeu o projeto. A previsão é de que chegue até amanhã e, a partir de então, Marchezan terá 15 dias para vetar ou sancionar a nova cor.
O prefeito já manifestou que a cor laranja é um diferencial histórico, uma marca do serviço na Capital. A assessoria de imprensa, porém, não adiantou sua decisão e disse que ela será baseada em uma avaliação jurídica do projeto. Se aprovado, os motoristas terão dois anos, a partir da publicação da lei, para se adequar.
CONFIRA OS ARGUMENTOS
Contra a mudança
/// Cor é uma referência para o passageiro.
/// Pode ser identificada de longe.
/// Em caso de roubo, tem menos saída no mercado ilegal. Pode facilitar o mercado clandestino.
/// É uma identidade de Porto Alegre, diferente de outras cidades.
A favor da mudança
/// Despesa menor na hora da compra, pois não precisa mudar de cor.
/// Valoriza o carro na hora da venda.
/// Pintura original tem mais durabilidade.
/// Identificação ficaria prejudicada, já que manteria prefixo luminoso.
FALA, TAXISTA!
Contra
— Essa é a identidade de um veículo que presta um serviço para Porto Alegre. É um padrão. Carros brancos podem dar margem para clandestinidade. Zeno Lopes, 61 anos, taxista há 23
— A cor é um patrimônio da cidade e todo mundo sabe que é essa a cor do táxi. É a referência do passageiro. Arthur Costa, 47 anos, taxista há cinco
A favor
— Evita a despesa de colocar a cor na hora da compra. Essa cor desvaloriza o carro. Com o branco, vamos ganhar na hora da revenda. Dirceu Almeida, 64 anos, taxista há 42
— Será mais barato na hora de comprar e trocar o carro. É algo que vai facilitar para o taxista. Alexandre Batista, 47 anos, taxista há 20