Desempregada e com dificuldades para se reposicionar no mercado, a terapeuta ocupacional Anelise Bestani, 40 anos, só acalmava a angústia da falta de emprego quando visitava o Santuário Paróquia Nossa Senhora do Trabalho, na Vila Ipiranga, Zona Norte de Porto Alegre. Era lá, aos pés da imagem da santa, que ela pedia uma chance de voltar a exercer a profissão que amava. Há oito anos, depois de uma procissão em homenagem à Padroeira dos Trabalhadores, Anelise teve a graça alcançada. Desde então, o 1º de maio tem ainda mais significado para a terapeuta ocupacional: é o dia de estar na festa organizada pelo Santuário.
Nesta terça-feira (1º), mais uma vez, Anelise estará entre os cerca de 5 mil devotos que deverão participar da 64ª Festa de Nossa Senhora do Trabalho, que terá procissão, missa campal e festival de bandas católicas. Um dos momentos mais aguardados pelos fiéis é sempre a bênção das carteiras de trabalho, conforme a coordenadora do evento, Camila Brambila.
— Com o grande índice de desemprego, as pessoas vêm pedir ou agradecer pelo que foi alcançado — relata Camila.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, divulgada pelo IBGE, 13,7 milhões de brasileiros estão sem emprego no país. No trimestre encerrado em março, a taxa de desocupação no Brasil cresceu 1,3% em relação ao período trimestral anterior (12,6%).
Anelise sabe muito bem como é não ter uma oportunidade de emprego. Depois de formar-se na área que desejava, ficou dois anos procurando uma chance. Por um período, chegou a trabalhar como babá para ter garantido o sustento. Vinda de uma família devota de Nossa Senhora do Trabalho, Anelise foi batizada e casou no Santuário, mas apenas esporadicamente frequentava o local. Em 2010, porém, durante uma missa, ela garante ter sentido algo dizendo que conseguiria um emprego em breve. Então, ela decidiu participar da novena e da procissão.
No dia da caminhada com o andor, sem conseguir se aproximar da imagem, Anelise não pensou duas vezes: jogou a carteira do conselho do qual faz parte na direção da Santa. E viu ela seguindo com Nossa Senhora do Trabalho ao longo da procissão.
— Não consegui recuperá-la, mas um mês depois fiquei em primeiro lugar num concurso, depois comecei a atuar numa clínica na área que eu mais queria (saúde mental) e, em seguida, num hospital em Porto Alegre. Nunca mais fiquei sem emprego. E tenho certeza de que a Santa intercedeu depois das minhas orações. Minha devoção a ela só aumentou — garante Anelise.
Uma ajuda também para os apaixonados
Mas não é só pelo emprego que Nossa Senhora do Trabalho é reconhecida entre os fiéis. Há quem afirme que ela também ajuda os apaixonados, como é o caso da dona de casa Eva Marlei, 75 anos, e do técnico em mecânica aposentado Victor da Silveira, 77 anos, devotos da santa e que se conheceram durante uma festa da padroeira.
— Durante a quermesse, mandei uma mensagem apaixonada para ele, que estava tímido. Naquela mesma noite, ele me acompanhou até o portão da minha casa. Nunca mais nos separamos — conta, com entusiasmo, Eva.
Os dois passaram a frequentar juntos as missas e as novenas, por serem oportunidades de estarem mais próximos. Hoje, estão prestes a completarem 51 anos de casados.
— Ela morava em outro bairro e aproveitávamos o final da missa para ficarmos um tempo a mais juntos. A levava para casa, mas sempre com alguém da família dela ao nosso lado _ recorda Victor.
Pedidos alcançados
Depois de cinco anos de namoro, o casal confirmou o enlace na igreja do bairro de Eva, mas passou a morar na Vila Ipiranga. A partir dali, se tornaram participantes em tempo integral do Santuário. Todos os pedidos de emprego para os familiares, garantem, sempre foram alcançados. Eles ainda batizaram os dois filhos no local e, para coroar a devoção do casal, tiveram uma neta nascida no dia da santa.
— Minha nora estava com dificuldades para ter a Juliana, hoje com 13 anos, que já tinha passado do horário de nascer. Fui à missa e pedi à Nossa Senhora que intercedesse. Poucas horas depois, meu filho ligou dizendo que a nossa netinha havia nascido. Foi uma graça de amor alcançada — acredita Eva, emocionada.
A história de Nossa Senhora do Trabalho
A primeira festa em honra à Nossa Senhora do Trabalho foi realizada no dia 1º de maio de 1901, na Itália. A imagem da mãe abençoando um agricultor e um carpinteiro foi idealizada por São Luís Guanella, fundador da Congregação das Filhas de Santa Maria da Providência e dos Servos da Caridade e principal propagador da devoção a Nossa Senhora do Trabalho.
A 64ª Festa em Honra a Nossa Senhora do Trabalho está inserida no calendário oficial da prefeitura de Porto Alegre e é uma realização dos fiéis da Igreja Católica.
Saiba mais
* A saída da procissão ocorrerá pela primeira vez no Parque Germânia, a partir das 8h.
* Só será cancelada em caso de temporal.
* Do Parque Germânia, a multidão segue pela Avenida Túlio de Rose, Rua Engenheiro Walter Boehl, Praça Engenheiro Paulo de Aragão Bozano, Avenida Engenheiro José Maria de Carvalho, Avenida Dr. João Simplício de Carvalho, Avenida do Forte e Avenida Brasília.
* A caminhada entra na Avenida Benno Mentz e se encerra, perto das 9h, na Paróquia Santuário Nossa Senhora do Trabalho ( Avenida Benno Mentz, 1.560, Vila Ipiranga).
* A missa está programada para iniciar 9h, com a bênção das carteiras, seguida de uma celebração pelo Padre Ezequiel, de Caxias do Sul, às 10h40min.
* O almoço ocorre às 11h30min _ o local tem capacidade para 1,5 mil pessoas, e os ingressos, a R$ 25, já estão à venda na secretaria da paróquia, ou podem ser adquiridos na hora, conforme disponibilidade.
* O festival de bandas católicas ocorre às 14h30min. Uma roda de chimarrão também está na programação.