A professora reúne um grupo de alunos debaixo da sombra de uma árvore no pátio da escola. Com o livro em mãos, conta uma história e passa a atividade do dia, enquanto os estudantes escrevem em cadernos apoiado sobre as pernas. Poderia ser um dia de aula diferente, mas, para a professora do terceiro ano do Ensino Fundamental Angela Zanettini, foi a única forma que encontrou de conseguir trabalhar na manhã desta sexta-feira.
Sem energia elétrica desde o dia 14 de fevereiro, nem todos os 400 alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental David Canabarro, no bairro Jardim Leopoldina, na zona norte de Porto Alegre, aguentam ficar um turno inteiro em uma sala de aula quente, sem água gelada e com pouca ventilação. No dia 26, quando retornaram das férias, foram recepcionados com a escola às escuras. Ficam inquietos, reclamam e alguns até passam mal.
– Consigo manter eles na sala até umas 9h45min, que é a hora do recreio. Depois, eles voltam suados, ficam desmotivados, não rende mais e a alternativa é ir para a rua. Tem aluno que pinga de suor dentro da sala de aula. À tarde, fica insuportável. Na rua, tento fazer contação de história, jogos, algo que faça a aula valer – explica Angela.
"Estressante"
A poucos metros dali, no outro lado do pátio, a professora de Artes Iasmine Freitas dá aula para o sétimo ano debaixo de outra árvore. Mais uma vez, os alunos equilibram o caderno nas pernas para fazer a lição. A gurizada faz piada com a situação, reclama que falta o básico, mas a professora é crítica:
– É estressante para eles e para nós. Na sala de aula, não tem como ficar. Um aluno do nono ano chegou a passar a mal.
Merenda também fica prejudicada
A merenda também é limitada. Sem energia elétrica, o cardápio varia entre bolacha, pão e suco. Para dar conta dos ajustes de começo de ano, a secretária da escola trabalhou de casa para fazer a troca de matriculas e rematrículas. Dentro da biblioteca, uma escuridão. Responsável pelo espaço, a professora de Português Magda Cyrre disse que é impossível fazer a hora do conto, que ocorre uma vez por semana com alunos do primeiro ao quinto anos, dentro daquele cenário.
– Não tem como fazer nada nessa escuridão – lamenta.
A falta de luminosidade ainda não é um problema dentro da salas de aula devido a forte luz solar, porém, já incomoda em dias de chuva.
Os pequenos do primeiro ano, que estão pela primeira vez na escola e em fase de adaptação, estranham ainda mais. A professora Carina Closs orienta os pequenos a trazerem água congelada de casa para ter o líquido gelado durante a aula.
– É muito ruim recepcioná-los assim. Nossa sala de aula tem dois ventiladores, é péssimo não poder usar nenhum. E em dia de chuva, a sala de aula fica ainda mais escura – diz a professora.
Solução até final da semana que vem
A diretora Lourdes Maria Nogueira conta que o poste de luz da calçada caiu na Quarta-Feira de Cinzas, durante um temporal, e acabou atingindo outro poste, que fica dentro do pátio da escola e conduz energia para os prédios das salas de aula. No dia seguinte, ela começou a fazer orçamentos para o conserto. Ainda precisou refazê-los, para adequação de preço a pedido da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). Até agora, não obteve nenhum retorno de quando o serviço será feito:
– Já estou no desespero, não sei mais o que fazer. Achei que ficaríamos no máximo uma semana assim.
À reportagem, a Seduc informou que no começo da próxima semana será liberada a verba de autonomia financeira da escola para que seja executado o serviço. E prometeu que, até o final da semana que vem, o fornecimento de energia será normalizado.