Policiais militares e líderes comunitários do bairro Tristeza, zona sul de Porto Alegre, andavam às voltas com a má conservação do posto localizado em um prédio histórico na Avenida Wenceslau Escobar. Com problemas elétricos, assoalho danificado e infiltrações, a solução para os problemas do imóvel parecia distante, mas a saída para a falta de recursos estava do outro lado da rua.
Ao testemunhar a construção de um empreendimento privado no terreno oposto, brigadianos e moradores decidiram buscar auxílio dos construtores. Deram início, assim, a uma mobilização comunitária que reuniu mais de 30 fornecedores de materiais ou mão-de-obra e permitiu a recuperação do antigo posto da Brigada Militar. A primeira fase do trabalho de revitalização será apresentada na quarta-feira (28) em um ambiente com pisos e paredes renovados, nova fiação elétrica e pintura refeita.
— A Brigada havia feito um contato conosco para saber como poderíamos ajudar, já que tínhamos nos mobilizado para reformar um outro posto na Rua Déa Coufal. Mas agora seria necessário uma reforma muito grande, e fazer uma campanha para arrecadar fundos e materiais demoraria muito — conta a presidente da Associação Ipanema: Eu Moro, Eu Cuido, Waneza Vieira, moradora do bairro vizinho que é atendido pela mesma companhia da Brigada Militar.
Waneza e o então comandante da 2ª Companhia do 1º BPM, major Fábio Kuhn, olharam para a calçada do outro lado do asfalto, viram o conjunto de prédios sendo erguido e decidiram buscar auxílio ali mesmo. A construtora responsável pela obra, a Maiojama, concordou em fazer parte da articulação em favor da reforma. A saída encontrada para recuperar o prédio público localizado na esquina com a Rua Dr. Armando Barbedo foi inovadora: a empresa mobilizou dezenas de fornecedores com os quais costuma trabalhar. Representantes apresentaram o projeto a eles e perguntaram quem poderia ajudar, e de que forma. Cada um contribuiu de um jeito — como e quando pôde.
— Alguns doaram recursos, outros doaram materiais, um contribuiu com a mão-de-obra para refazer toda a instalação elétrica, por exemplo — conta a engenheira de Planejamento e membro do Comitê de Responsabilidade Social da Maiojama, Édina Quissini Casagrande.
O diretor-executivo da construtora, Antonio Pedro Teixeira, sustenta que a iniciativa acabou criando um modelo de cooperação entre poder público, comunidade e empresariado que poderia ser replicado mais vezes em outros lugares:
— O esforço de todos viabilizou a mudança. Esse mesmo modelo pode ser aplicado ao apoio a outros serviços essenciais que enfrentam dificuldades.
Segunda etapa deverá estar pronta até setembro
Ao mesmo tempo em que será apresentada a conclusão da primeira etapa das obras de revitalização, para a comunidade e colaboradores do projeto, terá início o esforço para realizar a segunda fase da recuperação do prédio histórico de 140 metros quadrados – construído em 1906, já como posto policial, e para o qual está em andamento uma proposta de que seja tombado pelo Patrimônio Histórico.
A continuidade da renovação inclui melhorias em áreas anexas como alojamentos, vestiários e cozinha, com substituição do telhado e outras intervenções. A expectativa é de que todo o serviço seja concluído em setembro.
— Contar com um ambiente digno, limpo, organizado, ajuda a prestarmos o nosso serviço da forma como o cidadão merece — sustenta a atual comandante da 2ª Companhia do 1º BPM, major Noélia Raggio.
A substituição das instalações elétricas, por exemplo, além de evitar riscos de incêndio, permite a instalação de equipamentos de ar-condicionado mais potentes, melhorando o conforto de policiais e da população que necessita utilizar o posto policial.
A etapa complementar da reforma será realizada também em sistema de parceria entre a construtora, fornecedores, comunidade e Brigada Militar.