Faz algumas semanas que a Escola Estadual Alberto Torres, no bairro Vila Nova, em Porto Alegre, não para de receber doações de todos os tipos. A onda de solidariedade começou depois de um post no Facebook, publicado no grupo de reencontro de ex-alunos: "Vejo o amor, a saudade e a verdade em cada postagem. Quem pilha realizarmos algo juntos?", instigava a postagem. Um dia depois, uma lista reunia nomes de pelo menos 114 voluntários interessados na ideia. Um mutirão foi marcado para 28 de abril, quando vizinhos e ex-alunos irão retribuir o que receberam da escola.
Depois de fazer o post e perceber o engajamento, Everton Júnior Rosa da Silva, o Maninho, 44 anos, que comanda um comércio ao lado da instituição de ensino, reuniu um grupo, foi à escola e anotou o que precisava ser feito e arrecadado. Enquanto organiza os serviços na escola, Everton conta com a ajuda de Josi, administradora do grupo, que mora em Florianópolis, mas promete vir ao mutirão. Ele também recebeu apoio de outros comerciantes do bairro.
— Vi que os reparos eram viáveis. Aí, criei grupos de trabalho: tem gente da elétrica, da hidráulica, da jardinagem. Eu precisava de profissionais de todos os setores, e a gente conseguiu. Tem advogado que virá ajudar na limpeza — conta Everton.
Enquanto o dia do mutirão não chega, a turma vai preparando o terreno. Reparos já começaram a ser feitos em grades e paredes, sempre aos sábados, para não atrapalhar as aulas. Os 10 computadores da escola, que estavam parados, passarão por uma manutenção oferecida por outro ex-aluno. A sala de informática ficará em um novo local, que teve a porta original concretada e ganhou nova entrada.
— A porta ficava para o lado de fora, dava para o pátio. É uma questão de segurança — explica Everton.
Para a vice-diretora da escola, Bárbara de Cristo Silveira, a ação é um aprendizado:
— A gente já tentou fazer alguns mutirões, mas não teve êxito, pouca gente aderiu. O que eles estão fazendo é algo que a gente não conseguiu. Estamos muito felizes e aprendendo com eles.
O cuidado com a instituição, que atende cerca de 1.100 alunos de Ensino Fundamental e Médio, reflete-se também nos materiais doados: lâmpadas, latas de tinta de várias cores, pincéis, livros, cadernos, dois monitores de computador, três kits de teclado e mouse. As doações são feitas diretamente no colégio, que não recebe quantias em dinheiro: a equipe preferiu assim, para manter a transparência da ação. Alguns itens ainda faltam — como tintas de tons específicos para a quadra de esportes e para as grades, lâmpadas e pias simples, para os banheiros. Mas um desses objetos leva Everton direto aos tempos de infância: os mastros para hastear bandeiras.
— Isso seria um sonho para mim. Resgatar a tradição de jurar a bandeira, cantar o hino, como na minha época — lembra ele, explicando que seriam necessários três equipamentos: para a bandeira da escola, do Estado e do país.
A história de Everton com a instituição seguiu para muito além de 1980, quando ele circulava diariamente pelos corredores do local. Foi lá que ele conheceu a esposa, há 29 anos, com quem continua até hoje. A filha, hoje formada em Jornalismo, também passou pela escola, assim como o caçula de 11 anos, que frequente a instituição.
No grupo do Facebook, a tag #todospeloAT reúne as novidades sobre a revitalização. Os voluntários também organizam uma ceia para o dia 28: cada um pode levar um prato de salgados ou doces, assim como mandam as festinhas de escola. Sobre o dia do mutirão, Everton projeta:
— Sei que vai ser um exemplo bonito para muita gente. Todos nós somos muito apaixonados pela escola, mas ninguém sabia como fazer para ajudar. Agora, achamos uma forma.