Um dos principais investigados na Operação Casa Nostra, que apura desvios no Departamento Municipal de Habitação (Demhab) de Porto Alegre, é Roberto Kraid Pereira, ex-coordenador de crédito imobiliário do órgão da prefeitura. Em janeiro de 2016, foi nomeado como diretor-geral da Câmara de Vereadores pelo então presidente Cássio Trogildo (PTB). Em fevereiro de 2017, foi nomeado pelo prefeito Nelson Marchezan como diretor-geral adjunto do DMLU, função que deixou para retornar para a Câmara como diretor-administrativo, no mesmo ano. Kraid, que já deixou a função no Legislativo municipal, é coronel da reserva da BM.
Também são investigados Vera Schimdt, mulher de Kraid, que teria recebido na conta pessoal valores desviados do Demhab, Marcos Rafael Gomes Botelho, ex-diretor-adjunto do Demhab, Damaris Gomes Hertz dos Santos, servidora aposentada do Demhab, Paulo Ricardo Cabreira dos Santos, servidor, e Edison Nascimento Leães Neto, corretor de imóveis.
A Operação Casa Nostra investiga a suspeita de que gestores e servidores do órgão municipal tenham desviado valores pagos por pessoas que adquiriram imóveis em projetos habitacionais. O prejuízo ao município, em apenas três casos analisados, é de cerca de R$ 100 mil.
Kraid atuou no setor de crédito imobiliário do Demhab entre 2013 e 2016 e não foi ouvido pela polícia durante a investigação. Nesta segunda-feira, sofreu buscas em sua residência e será levado a depor. Sua esposa, Vera, em depoimento à polícia durante a apuração, negou receber valores do Demhab, mas admitiu que sua conta era usada pelo marido para depósitos. Foi na conta dela que teriam ingressado R$ 50 mil de uma negociação de um imóvel. O comprador do imóvel contou à polícia que fez o depósito para Vera por orientação do corretor de imóveis Edison, também investigado.
Na investigação, o corretor contou que as contas bancárias para depósitos de valores decorrentes de negociação com o Demhab eram indicadas por Kraid e Damaris. Outro fato que surpreendeu a polícia foi que Kraid, em maio do ano passado, quando ocupava o cargo de diretor-geral adjunto do DMLU, entrou no Demhab à noite para buscar documentos no setor de crédito imobiliário. Teria contado com ajuda do servidor Santos, também investigado.
A servidora aposentada Damaris, que exerceu por anos função de assessora do coordenador de crédito imobiliário, e, portanto, diretamente subordinada a Kraid, teria exigido R$ 3 mil de uma mutuária, que acabou entregando R$ 2 mil para fazer abatimento em saldo devedor. O abatimento não foi feito e o valor ingressou na conta de Damaris, conforme apurou a polícia.
Também foi Damaris que teria dado orientações a uma mutuária sobre como renegociar a dívida com o Demhab, mas sem referir que a mutuária anterior havia pago R$ 8 mil para abater o saldo. O abatimento, mais uma vez, não ocorreu.
Em relação a Botelho, a polícia diz ter indícios da atuação dele em prol dos desvios, mas sem revelar detalhes para não atrapalhar a investigação que prossegue.
GaúchaZH está tentando contato com os investigados. Em nota, a prefeitura de Porto Alegre disse que colabora com a investigação.
Confira a nota da prefeitura, na íntegra:
"A atual gestão da Prefeitura Municipal de Porto Alegre não compactua com qualquer tipo de irregularidade na administração pública. Todas as informações que embasam a atual investigação no âmbito do Departamento Municipal de Habitação foram repassadas aos órgãos de investigação com inteira colaboração do governo e dos gestores municipais. A gestão continuará atuando em parceria e à disposição da investigação, a fim de apurar devidamente todos os atos que sugiram irregularidade em qualquer setor da administração pública municipal."
CONTRAPONTOS
O que diz Marcos Eberhardt, advogado de Roberto Kraid Pereira e Vera Schimdt:
"Estamos protocolando pedido de vista integral da investigação para depois podermos dar esclarecimentos".
O que diz Jader Marques, advogado de Marcos Rafael Gomes Botelho:
"Ainda não tivemos acesso à investigação, mas acredito que meu cliente acabará sendo ouvido como testemunha já que sequer trabalhava no setor objeto das investigações.“
O que disse Damaris Gomes Hertz dos Santos, servidora aposentada do Demhab:
"Não estou em Porto Alegre, não sei de nada. Quando chegar em Porto Alegre, vou me inteirar dos fatos".
Edison Nascimento Leães Neto, corretor de imóveis:
"Desde 2014, realizo trabalho sério, idôneo e transparente como corretor de imóveis de forma autônoma, sem vinculação com nenhuma imobiliária ou com o Demhab. Atendo o bairro Jardim leopoldina e possua carteira com diversos clientes e centenas de imóveis cadastrados. Repudio, veementemente, insinuações tendenciosas vinculadas a meu nome, uma vez que conduzi a negociação investigada dentro dos ditames legais. Continuo à disposição dos órgãos competentes para apuração dos fatos e a busca dos responsáveis".
O que disse Paulo Ricardo Cabreira dos Santos, servidor do Demhab:
"Eu já dei depoimento, e me falaram que eu sou testemunha. Vou procurar até os meus direitos, meu nome está rolando em uma coisa que eu não sei de nada. Eu não tenho nada a ver."