Com exceção de Belém Novo e Lami, na Zona Sul, nenhum ponto do Guaíba é próprio para banho em Porto Alegre. Mas em finais de semana escaldantes, como o último, tem gente que ignora as recomendações e se lança nas águas poluídas. GaúchaZH flagrou cerca de 15 pessoas, principalmente crianças, banhando-se perto da Fundação Iberê Camargo no último domingo (18).
— Por mais que se oriente, não adianta. É uma inconsequência — relata o major Marcelo Carvalho Soares, da seção administrativa da Academia de Bombeiros.
Para quem toma banho ou pratica esportes em águas contaminadas, os riscos para a saúde são diversos, incluindo doenças infecciosas como a hepatite. O médico hepatologista Claudio Augusto Marroni explica que o vírus tem transmissão fecal-oral, sendo que uma das possibilidades é por meio da ingestão de água contaminada por fezes. Ele também não descarta a contaminação por bactérias que geram infecção intestinal, desencadeando diarreia, desidratação e febre. O especialista cita ainda doenças como a leptospirose, originada da urina dos ratos.
— Não precisa tomar um litro da água, mas ao nadar, mergulhar, colocar essa água no rosto, a pessoa pode estar sujeita — observa Marroni.
O contato com águas contaminadas também pode gerar doenças de pele. Sérgio Célia, dermatologista do Hospital São Lucas da PUCRS, cita as infecções superficiais geradas por bactérias, sendo que uma das mais comuns é a impetigo, cuja principal manifestação é o aparecimento de bolhas.
— Desenvolve-se muito ligeiro, é do dia para a noite — observa, comentando que entrar em águas poluídas para um banho apenas já seria o suficiente para gerar a infecção.
Sérgio Célia observa que muitos esportistas buscam se prevenir utilizando roupas especiais de borracha.
Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams), para que um ponto seja considerado balneável, além da qualidade da água, são levadas em consideração aspectos como profundidade, correntes, infestação de algumas espécies de fauna, tipo de areia, inclinação e existência de buracos. Não há aplicação de sanção para quem entra na água em locais impróprios, apenas se houver danos ao meio ambiente.
O major Soares acrescenta que em áreas mais próximas ao Centro, há canal no Guaíba.
— Alguns pontos têm bancos de areia, mas em regra é profundo — relata.
Além da profundidade, ele ressalta a presença de materiais sólidos não decompostos no fundo, que podem gerar incidentes, ou até tubulações de esgoto que colocariam banhistas em risco.
Nesta temporada, a Operação Verão tem registro de apenas uma morte por afogamento em Porto Alegre, em área não balneável do Guaíba, de um jovem que pescava com amigos nas proximidades da ponte da BR-290 em 14 de janeiro.
As únicas áreas tidas como balneáveis em Porto Alegre são Lami e Belém Novo. Por questões de saúde e segurança, a Smams desaconselha o banho em outros locais da orla de Porto Alegre. De acordo com o último relatório feito pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), divulgado no domingo, os seis pontos analisados nos dois bairros seguem próprios para banho. Os resultados são baseados nas últimas cinco análises.
As condições levam uma multidão à região.
— Se o tempo está quente, daí lota — conta Iara Marcelino, 56 anos, moradora e funcionária de uma lancheria no Belém Novo.
O município de Viamão também tem praias balneáveis no Guaíba. O Parque Estadual de Itapuã atualmente tem apenas uma praia aberta ao público, a Praia das Pombas. Durante a temporada, ela funciona de quinta-feira a domingo, das 9h às 19h, e tem capacidade para até 350 pessoas, que só acessam o local mediante compra de bilhete. O ingresso custa R$ 16,50 por pessoa, e crianças até nove anos não pagam.