O ano letivo está prestes a começar na Escola Municipal de Ensino Fundamental Ildo Meneghetti, do bairro Estância Velha, em Canoas, mas, se a expectativa dos alunos é de alegria por reencontrar amigos e professores, a dos pais é de apreensão e indignação. Isso porque, mais uma vez, a volta às aulas acontecerá em meio a um cenário de total precariedade das instalações, que vai muito além do desconforto para os quase 600 estudantes de 20 turmas: chega a colocá-los em risco.
Das 10 salas de aula, pelo menos duas estão em estado de completa deterioração. O quadro está tomado de cupins, o assoalho de madeira está esburacado e afundando, e o mais grave: o forro ameaça despencar e uma viga de madeira na porta está caindo, com pregos enferrujados expostos.
Revoltados, os pais lembram que, em 2012, um projeto de construção de uma nova escola foi aprovado pelo Orçamento Participativo, mas a obra nunca saiu do papel e, ano após ano, a situação só piora.
– Vão esperar acontecer uma tragédia para fazer alguma coisa? O projeto existe, houve aprovação, então, por que não foi executado até agora? Se isso tudo que vocês estão vendo não é motivo suficiente, não sei mais o que é – questiona o mototaxista Jadir Carvalho, 36 anos, pai da estudante do terceiro ano Manoela Beatriz, sete anos, e de Maryah Clara, seis, que entrará no primeiro ano.
Fornalha
Na quarta-feira passada (7), a reportagem esteve nas dependências da Ildo Meneghetti, em uma tarde de sol escaldante e temperatura acima dos 30ºC. O calor intenso tornava praticamente impossível ficar alguns minutos dentro das salas de aula – pequenas, de madeira e algumas com os vidros emperrados, impossibilitados de serem abertos –, mesmo que elas estivessem vazias. A partir do próximo dia 21, aproximadamente 30 alunos por sala terão a missão de suportar um turno inteiro amontoados neste ambiente.
Mãe de Sarah, oito anos, que estrará no terceiro ano, Jenifer Woytichoski, 34, diz que a filha se queixa do calor e dos buracos que já fizeram vítimas:
– Uma criança já prendeu o pé em um deles, e outra caiu na saída da sala por causa do desnível, tendo que levar pontos no rosto. A escola está atirada às traças.
Pai de Sarah, o motorista Robert Vagner Santos Alves, 34 anos, lembra que apresentação de final de ano das crianças em 2017 foi uma prova de resistência:
– Eles se apresentaram na rua, debaixo de um sol de 40 graus, porque a escola não tem um auditório ou sequer uma área coberta.
Os pais são unânimes e fazem questão de ressaltar elogios ao corpo docente e a excelência educacional da instituição de ensino, mas lamentam que a mesma qualidade não se estenda às instalações.
– Não queremos mudar de escola, os alunos estão em ótimas mãos aqui. São profissionais muito competentes e dedicados. Não há uma palavra a dizer sobre isso. Mas as condições estruturais são preocupantes. A segurança das crianças tem que estar em primeiro lugar – diz Jair.
"Um grande remendo"
Os problemas da Ildo Meneghetti não se limitam às salas nem ao verão. Uma caixa d'água e o toldo de entrada voaram no ano passado e nunca foram recolocados. Quando chove, os alunos entram debaixo d'água mesmo, pois não há uma proteção. Aliás, são os dias chuvosos, segundo os pais, os de maior temor, já que a fiação fica exposta e molha a cada temporal.
– Os banheiros ficam dentro do refeitório, onde existem três bueiros que transbordam no local que as crianças comem. A entrada vira uma cachoeira – diz Ellen Iracet Rodrigues, 35 anos, presidente do conselho escolar, que completa:
– A escola só não caiu porque tem sempre alguém pregando alguma coisa. É um grande remendo.
Feita com sobras
Segundo a diretora Edineia Petry, 37 anos, a escola é de 1990 e feita com restos de construções de prédios públicos, inicialmente programada para ser provisória até a construção do novo prédio, que não aconteceu:
– Houve apenas uma ampliação, feita também com restos de materiais. Até o ano passado, tínhamos salas sem janela. Algumas são feitas em amianto, que é um material tóxico e proibido, uma substância cancerígena. Já está mais do que passada a hora de reformar. É uma urgência, a escola está caindo em cima da cabeça da gente e precisamos ter condições de trabalhar.
Enquanto a prefeitura não toma uma atitude, a comunidade escolar se vira nos 30 para encontrar soluções paliativas para os transtornos, como a compra recente de oito ventiladores que substituíram os estragados.
– A gente passa fazendo chá de mães, festa junina, rifas e todo tipo de ações para angariar dinheiro para pequenos reparos. Viramos promotores de eventos – ironiza Ednéia.
Prefeitura "busca recursos"
A Secretaria Municipal da Educação de Canoas afirmou, por e-mail, que "tem feito contínuos monitoramentos técnicos na escola Ildo Meneghetti para garantir a segurança dos alunos" e garantiu que "caso haja estruturas que ofereçam insegurança, vai isolar os locais e transferir os alunos para outras salas". Segundo a pasta, a prefeitura está buscando recursos financeiros junto ao governo federal para a construção de uma escola nova.
Sobre as duas salas citadas em estado mais crítico, informou que está sendo orçada a reforma de uma delas e aberto processo licitatório para construção de uma nova sala que substituirá a outra. No entanto, não há expectativa de prazo para a conclusão dos serviços.
A respeito do projeto aprovado em 2012, argumentou que "o Orçamento Participativo ocorreu em Canoas entre 2009 e 2015. Quando a nova gestão assumiu, em 2017, o programa já havia acabado, assim como os recursos destinados às realizações prometidas pelo governo anterior".