Pela primeira vez em 45 anos, a piscina do Centro de Comunidade Parque Madepinho (Cecopam), no bairro Cavalhada, permanecerá fechada para a temporada de verão em Porto Alegre. A decisão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte causou revolta entre os frequentadores.
Acostumada a participar das atividades no Cecopam durante o ano inteiro, a professora Daniela Albuquerque, 48 anos, lamentou não ter o principal lazer do verão da família. As filhas Paloma, nove anos, e Poliana, sete anos, são as que mais sentirão falta das aulas de natação e do banho livre, segundo a mãe.
— Paloma aprendeu a nadar aqui, e a Poliana começaria neste ano. É o único espaço familiar que temos para a comunidade e a prefeitura, simplesmente, o tirou sem consultar os moradores — contou a professora.
Daniela faz parte da comissão de alunos do Cecopam que se reuniu com a secretária de Desenvolvimento Social, Denise Ries Russo, na sexta-feira passada, para pedir explicações sobre a decisão da administração municipal. O grupo recebeu apenas a sugestão de participar dos banhos numa das outras quatro piscinas que ficarão abertas nesta temporada — Cecoflor, Ceprima e Cevi, na Zona Norte, e Cecores, no Extremo Sul. Destas, apenas o Cecores e o Cecoflor abriram neste final de semana.
Também representante do grupo, a dona de casa Zilma Silva, 54 anos, relata que muitos moradores não têm condições de se deslocarem até a piscina comunitária mais próxima, no bairro Restinga, a 17km de distância.
— A secretária ficou de nos dar um retorno nos próximos dias, mas tememos que até as outras atividades (yoga, vôlei, futebol e capoeira), que estão sendo ofertadas agora para suprir a falta da piscina, sejam retiradas também — comentou.
Restrição
Segundo a secretária, a redução de cinco para quatro piscinas no Projeto Verão 2018 vinha sendo discutida nos últimos meses por conta da restrição orçamentária. O órgão dispõe neste ano de R$ 300 mil para mantê-las funcionando nos meses de janeiro e fevereiro. O valor é utilizado para serviços terceirizados: o pagamento dos seguranças noturnos e a medição do cloro e avaliação diária da água.
— Sabemos que o centros servem mais do que como área de lazer, são inclusão social. Mas levamos em conta a participação da comunidade em fevereiro de 2017. Enquanto 662 pessoas passaram pela piscina do Cecopam, mais de 3,5 mil frequentaram cada uma das outras no mesmo período. Isso foi determinante para esta piscina ter sido a escolhida — explicou a secretária.
Com a mobilização da comunidade, Denise prometeu encaminhar ao prefeito Nelson Marchezan a solicitação dos moradores, mas não prometeu mudanças. Inclusive, não soube responder se ela voltará a ser aberta nos próximos anos.
"Surpresa ingrata"
No verão do ano passado, o fim do Cecopam já tinha sido temido pelos frequentadores, pois a piscina foi a última das comunitárias a ser aberta. A comissão de alunos alega que, sem a divulgação da abertura, muitos moradores não tiveram tempo hábil para confeccionar as carteiras e participar da aula obrigatória. Acabaram optando por não participarem das atividades de banho. Ao contrário deles, a diarista Rosane do Amaral, 45 anos, jamais deixou o Centro. Na esperança de vê-lo funcionando neste verão, ajudou com outros vizinhos a pagar por melhorias nele entre janeiro e agosto de 2017, quando a prefeitura não arcou os custos com a manutenção da área.
— Tiramos do nosso bolso para pagar duas vezes por semana a limpeza dos banheiros e do chão. Colocamos grades nos prédios, compramos ventiladores para o ginásio. Foram ações voluntárias para não perdermos este espaço comunitário. Agora, a prefeitura voltou e deu esta surpresa ingrata para a gente — lamentou.