A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) começou a investigar nesta quinta-feira (11) se houve descumprimento de regras de segurança no aeroporto Salgado Filho na tarde de quarta-feira (10), quando um funcionário de empresa terceirizada ficou ferido após um raio cair em uma aeronave. Uma interdição de 2016 da SRTE determina a evacuação da pista do aeroporto de Porto Alegre e suspensão de atividades em caso de tempestade de raios — isso pode não ter sido seguido, conforme apuram auditores-fiscais.
— Existem padrões nacionais e internacionais de segurança que dizem, com todas as letras, que não se deve fazer atividades a céu aberto junto a aeronaves quando existe tempestade de raios nas proximidades do aeroporto. Tudo indica que ontem (quarta) houve uma queda de raio. Vamos apurar se houve, em qual circunstância e se teve algum alerta. Temos de verificar se ocorreu falha no monitoramento da Fraport ou violação por parte de empresas para poder adotar as medidas cabíveis contra os responsáveis — disse o auditor-fiscal Otávio Rodrigues.
A chuva que atingiu a Capital na quarta-feira provocou a suspensão das atividades no Salgado Filho por cerca de uma hora. Segundo a Fraport, que administra o complexo desde o começo do ano, o trabalhador ferido foi encaminhado a um hospital para atendimento médico e passa bem.
A determinação de 2016 da SRTE prevê que, quando há incidência de raios em um determinado perímetro de segurança, as atividades de pista sejam reduzidas e, em caso de aproximação da tempestade, totalmente paralisadas. A interdição ocorre desde que um mecânico morreu após ser atingido por uma aeronave durante uma tempestade. Ele tentava se abrigar da chuva quando foi atingido na perna por uma aeronave que era rebocada por um trator agrícola. Segundo a SRTE, pelo menos cinco outros incidentes em dias de tempestade teriam deixado funcionários feridos nos últimos dois anos.
Além de vetar atividades como abastecimento em caso de aproximação de raios, a superintendência proibiu a utilização de tratores agrícolas para o reboque de aeronaves. Para o diretor de saúde do Sindicato dos Aeroviários, Flávio Maia, é importante que o protocolo seja seguido à risca para garantir a segurança dos trabalhadores.
— Suspeitamos que esse procedimento não tenha sido feito. Queremos que seja seguido à risca, porque é uma regulamentação mais completa no sentido de garantir a segurança. Temos de tentar preservar o máximo possível os empregados — avaliou.
Em nota, a Fraport informou que "a segurança dos passageiros, funcionários e usuários é um valor inegociável" e que, na quarta-feira, "imediatamente após o início da tempestade de raios, o aeroporto suspendeu as atividades de pátio para garantir a segurança de todos". A empresa ainda diz que "as atividades só foram retomadas quando não havia mais indicações de novos raios".
Rara no Brasil, comum no Exterior
Incomum nos aeroportos brasileiros, a suspensão de atividades por aproximação de raios é uma realidade em outros países, conforme o professor de performance, peso e balanceamento de aeronaves da PUCRS Thiago Brenner.
— Porto Alegre não está inventando nada. Desconheço as regras específicas do Salgado Filho, mas sei que essas regras existem em vários países do mundo, embora até então não tenha visto serem aplicadas no Brasil. Na Argentina, por exemplo, é comum haver suspensão do abastecimento de aeronaves quando há tempestade — relata.
Segundo o professor da PUCRS, a aproximação de tempestade com raio, de um modo geral, não afeta as aeronaves ou quem está em seu interior. Já pessoas que estejam nas proximidades, como funcionários de pista, ficam mais vulneráveis.
— Operar é que nem caminhar na beira da praia em dia de tempestade de raio: o aeroporto é um descampado. Se o avião sofre uma descarga elétrica não afeta quem está dentro, mas quem está do lado de fora fica mais exposto. O protocolo não é exagero. Ainda que rara, a queda de raios é um evento que acontece.