O desperdício de água potável tem incomodado moradores de Porto Alegre. Brotam do solo e de registros rompidos pontos de vazamento de água nos bairros Jardim Carvalho, Jardim Leopoldina, Restinga e Partenon – situações que chegaram ao Diário Gaúcho nas duas últimas semanas por meio de denúncias de quem vive nesses locais e tenta alertar a prefeitura.
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Por meio da assessoria de imprensa, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), responsável por esse tipo de reparo, não soube dimensionar o tamanho do estrago atual e de casos já resolvidos. Segundo o Dmae, que não disponibilizou um técnico para dar entrevista sobre o assunto, não há um controle sobre o número de denúncias de vazamentos de água potável recebidos ou em aberto.
Há duas semanas, o site do DG já havia mostrado que além dos vazamentos, a falta de água também atrapalhava vida de moradores da Capital, principalmente na Zona Sul. Mesmo assim, parece que os problemas ligados ao abastecimento ainda persistem.
Quem paga é...
Questionado sobre uma dimensão de quantos litros de água já foram desperdiçados no ano e qual o prejuízo na conta de água dos usuários, o Dmae não respondeu.
O órgão atribuiu o recente acúmulo de demandas à greve dos municipários. Porém, afirmou que uma liminar garantiria 100% da execução dos serviços. O assunto, segundo o Dmae, estaria sendo tratado pela Procuradoria-Geral do Município (PGM). A PGM explicou que, apesar de uma liminar garantir o serviço, apenas 50% das equipes estão trabalhando.
Mais de um mês na espera
Entre os casos denunciados à reportagem, um se destaca pela demora no atendimento. No Partenon, uma fuga na Rua Sargento Manoel da Silva, próximo ao número 41, desperdiça água há pelo menos 40 dias. Foi no dia 28 de setembro que o segurança Luís Alberto Vieira da Cruz, 57 anos, abriu o primeiro protocolo. Ele diz que já perdeu as contas do número de promessas que ouviu do Dmae.
— É inadmissível tanta água limpa sendo jogada fora — critica.
Luís relatou que, na única vez em que estiveram na via, técnicos cobriram com piche a área do vazamento. Segundo o segurança, isso piorou a situação:
— O estado da rua é lamentável, além do desperdício. Esse "reparo" não ajudou em nada.
O Dmae prometeu que o vazamento deve ser resolvido nesta semana.
Desperdício de água em Porto Alegre chega a 50%, diz especialista
Para o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, Carlos André Bulhões Mendes, a falta de manutenção é a principal causa dos vazamentos. E mais: a cada 100 litros de água que saem do Guaíba para tratamento, explica o professor, só metade chega às casas. Os outros 50 litros são perdidos em vazamentos e ligações irregulares.
Além do desperdício, vazamentos ocasionam problemas de infiltrações, que resultam em buracos nas ruas e calçadas. A demora para solucionar os casos preocupa o especialista, já que a tendência é que a situação se agrave com o tempo. Só cobrir os vazamentos não resolve.
— Essa é a cultura da transgressão, a engenharia do jeitinho, que gera gasto — diz Mendes.
O preço básico de mil litros de água (1m³) em Porto Alegre é R$ 3,25.
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Outros locais com problemas
RESTINGA – O problema localizado na Avenida Governador Peracchi Barcellos, 4.619, em frente ao 21 º Batalhão da Brigada Militar, deixou o técnico de enfermagem Silvio Roberto Pereira de Souza, 43 anos, espantado com o descaso do Dmae. Ele afirma que aguardou 15 dias por uma resposta sobre o vazamento de água na via. Após contato feito pela reportagem, o Dmae resolveu a situação na segunda- feira ( 6). O leitor, porém, afirma que o reparo foi malfeito, deixando a calçada irregular.
JARDIM LEOPOLDINA – Na Rua Doutor Vargas Neto, 857, na Zona Norte, um cano próximo ao registro da residência de Carla Holstein, 41 anos, estourou depois do temporal ocorrido em 12 de outubro. A atendente de ótica já pediu diversas vezes pelo conserto, mas ainda espera respostas. Após contato feito pelo Diário Gaúcho, o Dmae prometeu conserto para tarde de segunda- feira passada, mas o reparo ainda não foi realizado.
VILA CASTELO – Ao longo da Rua Adão Benedito Lopes Brandão, um pequeno córrego se formou depois de mais uma semana de vazamento. A pensionista Eliane Oliveira dos Santos, 51 anos, conta que o problema atrapalha a vida dos moradores, além de ser "um crime ambiental". Ela explica que a água foi desligada no sábado passado e que, no domingo, equipes foram ao local fazer o conserto. Entretanto, na tarde de segundafeira, Eliane percebeu que o vazamento persiste. O Dmae afirmou que não tem previsão de novo conserto, alegando alta demanda para a região.
JARDIM CARVALHO – Na Rua Aristides Rosa, 700, também existiam pontos de desperdício. A água escorreu por quase um mês. Segundo o autônomo Paulo Fagundes Silveira, 41 anos, o problema começou com um pequeno vazamento depois de um temporal e foi aumentando. Após contato feito pelo Diário Gaúcho, a situação foi resolvida nesta segunda- feira.
LOMBA DO PINHEIRO – Elaine Nyland é moradora da Rua do Campo, 8, Parada 6, e afirma que seu registro de água está estragado e vazando há cerca de um mês. O Dmae afirma que foi realizada vistoria no dia 5 de outubro, e que Elaine foi informada de que era necessário abrir a alvenaria. Em 18 de outubro, novo protocolo foi feito para informar que a alvenaria havia sido aberta. O órgão afirma que o conserto está na programação, ainda sem previsão de ser realizado.
*Produção: Alberi Neto e Leticia Gomes