A casa de entretenimento Winfil pretende abrir as portas na terça-feira, no bairro Cavalhada, zona sul de Porto Alegre, mesmo correndo risco de interdição e apreensão de máquinas caça-níqueis, por se tratar de exploração de jogo de azar. Até a tarde desta sexta-feira, a Winfil não tinha alvará emitido pela prefeitura da Capital nem aprovação pelo Corpo de Bombeiros do Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndio (PPCI).
Para evitar ação policial, o advogado da empresa, Laerte Luis Gschwenter — defensor do Bingo Coliseu e Roma, fechado quatro vezes neste ano pela polícia — anunciou que vai protocolar no Tribunal de Justiça do Estado (TJ) uma notificação para informar a Secretaria de Segurança Pública, a Chefia da Polícia Civil, o comando da Brigada Militar, a Procuradoria-geral de Justiça e a prefeitura de Porto Alegre, a existência de documentos que autorizariam o funcionamento do estabelecimento e a liberação do jogo no Estado.
A empresa se baseia em acórdãos da Turma Recursal Criminal dos Juizados Especiais Criminais que vem absolvendo quem é processado por exploração de jogos de azar no Rio Grande do Sul. O entendimento tem sido de que o jogo não caracteriza conduta ilícita, e a punição a quem o explora fere a Constituição. Entretanto, juízes asseguram que essas decisões não autorizam a abertura de casas do ramo, e a polícia pode interditá-las e apreender equipamentos e dinheiro. Em âmbito federal, a legalização do jogo será discutida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com reflexos em todo o país, mas não há prazo para o julgamento.
— Temos convicção da legalidade da empresa. É uma revolução farroupilha que estamos iniciando aqui, e o Brasil aguarda — disse Gschwenter.
Localizada no cruzamento das avenidas Cavalhada e Eduardo Prado, a Winfil está instalada em 5,6 mil metros quadrados, com capacidade para receber 1,5 mil pessoas, restaurante para 120 lugares e estacionamento gratuito. Duas centenas de funcionários estarão envolvidos no atendimento ao público previsto para operar 24 horas, ininterruptamente, com 460 máquinas caça-níqueis e 40 diferentes opções de jogos.
O empreendimento pretende ser o maior do gênero no Estado e a primeira unidade no Brasil do grupo espanhol Pefaco, holding do ramo de jogos e hotelaria que opera a partir de Barcelona, em Portugal e em 10 países da África, como Burkina Faso e Congo, além do Paraguai.
A posição da Justiça gaúcha — de não penalizar a exploração do jogo — motivou a Pefaco a instalar a matriz da Winfil em Porto Alegre, com investimento de R$ 4 milhões em parceria com o empresário paulista Rogério Dell'Erba Guarnieri, executivo do McDonald's e da Rede Globo nos anos 1980 e 1990, que atuou em bingos no Brasil até meados da década passada e atualmente administra uma rede de restaurantes de comida japonesa.
— Temos convicção da legalidade da empresa. Ninguém investe se não tivesse tudo regular — afirmou Guarnieri.
O empresário garantiu que a documentação exigida pelos bombeiros e a prefeitura da Capital foi encaminhada e, caso não esteja pronta até terça-feira, a inauguração será adiada.
— Se não tiver alvará, não abrimos. Não faremos nada na ilegalidade — garantiu.
Guarnieri evitou falar na abertura de outras casas, mas, em uma recente entrevista, disse que a ideia é buscar sócios para abrir mais 19 delas no Estado — com total de quatro em Porto Alegre e as demais em Caxias do Sul, Canela e Gramado, na Serra, em Novo Hamburgo e São Leopoldo, no Vale do Sinos, Capão da Canoa, no Litoral Norte, Lajeado, no Vale do Taquari, e Pelotas, na Zona Sul. Depois, a Pefaco planeja expansão para outros Estados.
A Polícia Civil reiterou que jogo de azar segue sendo ato ilícito.
— Vamos verificar se há irregularidade. É imperativa a nossa atuação — afirmou o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, responsável pela Operação Vegas, ofensiva permanente da Polícia Civil de repressão à jogatina.