O programa de combate à violência escolar do governo estadual ainda enfrenta resistência nos colégios de Porto Alegre. O projeto de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave) começou a ser implantado em junho de 2015. Do total de 2,5 mil escolas estaduais no Rio Grande do Sul, 2,4 mil colégios se inscreveram no programa, mas apenas 1,8 mil estão efetivamente trabalhando com a prevenção à violência. Das 258 instituições de Porto Alegre, 120 não tiveram interesse em aderir ao programa.
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O que chama a atenção da coordenadora estadual do Cipave, Luciane Manfro, é que, em Porto Alegre, essas 120 não tiveram sequer interesse em se inscrever.
– Algumas se inscrevem no programa acreditando que o Estado vai fazer a gestão, e ficam de braços cruzados, em um primeiro momento, até perceberem que precisam formar as próprias parcerias. Mas, em Porto Alegre, a resistência é muito grande – lamenta.
– Em alguns casos, há falta de interesse. Acredito que, em algumas regiões em que a violência é muito alta, exista um receio de introduzir um novo programa, porque alunos se sentem ameaçados. Mas uma das formas mais difíceis em Porto Alegre é buscar parcerias com os pais, porque há formatos de famílias muito diferenciados. Às vezes, o vizinho cuida, a criança é criada pela avó etc. Não se consegue mais a participação dos pais nas escolas como se consegue no interior – explicou em entrevista a Leandro Staudt e Marcelo De Bona durante o programa Gaúcha Repórter, produzido por Elisandra Borba.
O maior problema identificado pela Cipave hoje são os conflitos entre alunos, principalmente verbal. O conflito é típico entre os adolescentes, principalmente quando um novo aluno chega à escola e acaba sendo recebido como “ameaça”, conforme a coordenadora Luciane.
O programa busca identificar os problemas vivenciados pelos alunos e debater os assuntos com os alunos e também com os professores, para que possam lidar com as situações. O índice de violência escolar caiu quase 5% na comparação entre o segundo semestre de 2016 com o primeiro semestre deste ano.
– As escolas ainda têm o hábito de fazer atas quando acontece alguma agressão física ou verbal , e os pais são chamados para que se tenha conhecimento. Não buscamos mais o formato de punir, retirar a criança da turma ou trocar de turno ou de escola. A ideia é que se busque uma conciliação dentro da própria escola, e que o jovem aceite as diferenças com que convive na escola. Nós buscamos prevenir, e não judicializar o processo.
Consumo de drogas
Reportagem do Grupo de Investigação da RBS flagrou rotina de tráfico e consumo de drogas entre alunos do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. A escola não faz parte do programa de prevenção à violência escolar. A reportagem entrou em contato com o colégio para saber se há interesse em aderir ao programa, mas foi informada, na tarde desta terça-feira (22), de que ninguém da direção estava disponível para conversar.
Os casos de drogas não são frequentes em colégios estaduais, de acordo com o levantamento da Cipave. Nos casos em que isso acontece, o caso é encaminhado para a polícia, e as escolas buscam debater o tema com os alunos.
Ouça a entrevista com a coordenadora estadual do Cipave, Luciane Manfro