Um tumulto foi registrado na Rua João Alfredo, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, durante ação da Brigada Militar por volta das 3h deste domingo (16) para desobstruir a via. Bombas de gás lacrimogêneo foram utilizadas e a confusão resultou em correria pelas ruas do bairro. Não há registro de feridos.
Tradicional ponto da vida noturna da Capital, com mais de uma dezena de bares e casas noturnas, a João Alfredo costuma ter calçadas e parte da rua ocupadas por uma multidão nas noites de final de semana. Os policiais foram acionados por conta de reclamações quanto a som alto, e um grupo de pessoas teria reagido lançando objetos contra a viatura, que pediu apoio do pelotão de choque.
Segundo Daniela Sopezki, que viu a movimentação da janela do apartamento onde mora, na Rua Baronesa do Gravataí, garrafas e pedras foram atiradas contra os brigadianos.
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Letícia Sebben, moradora da João Alfredo, também acompanhou a ação da janela de casa. Cerca de 10 viaturas, relatou Letícia, fecharam a via entre a Rua da República e a Luiz Afonso.
– Tinha muita gente na rua, como todo sábado à noite. Eles (policiais) deram várias voltas em volta do pessoal até chegar a tropa de choque. Correram com o pessoal que estava na rua, jogando bomba, ameaçando com taser (arma de choque). Não houve conflito ou motivo aparente que explique a ação deles – disse Letícia, acrescentando que viu e ouviu tiros.
Apesar de estar habituada com a barulheira noturna, Maria Izabel Lemos da Fonseca, outra moradora da João Alfredo, contou ter despertado em sobressalto na madrugada deste domingo por conta do confronto. Levantou-se e viu a multidão já em dispersão pela ação dos policiais militares:
– Fiquei apavorada, meu filho não estava em casa.
Conforme o Departamento de Comando e Controle Integrado, a polícia foi ao local porque moradores da região teriam reclamado de música em alto volume na João Alfredo.
– Ao chegar lá, as pessoas estavam no meio da rua. No momento em que os policiais pediram para as pessoas saírem, elas jogaram garrafas em direção aos PMs. O Pelotão de Operações Especiais reagiu com a utilização de agentes químicos – explica o tenente-coronel Eduardo Amorim.
A ação dividiu opiniões entre os que consideraram a ação um excesso da BM e quem reclama do comportamento de boêmios aos finais de semana. Na manhã de domingo, vários moradores de ruas próximas na Cidade Baixa manifestaram-se a favor da ação policial. Segundo eles, o movimento de frequentadores dos bares está "fora de controle": aos finais de semana, a João Alfredo por vezes é bloqueada e há vandalismo.
– Depois das 22h30min, você já não passa mais ali na João Alfredo, fica tudo trancado, com carros estacionados com música alta. Estamos pedindo ação da Brigada há muito tempo – afirmou o morador Luiz Carlos Lunks.
– Há 15 anos, era maravilhoso viver aqui. Agora é um horror, estamos sofrendo. Pela primeira vez a Brigada Militar tenta liberar a rua e é recebida a garrafadas. Ninguém é contra os bares, mas respeitando também o direito dos outros – disse Jorge Silva, que reside na Rua da República.
– No momento em que, através do diálogo, não foi possível desobstruir a via, não foi possível que as pessoas diminuíssem o volume dos rádios dos carros e no momento em que pessoas que estavam ali jogaram pedras e garrafas nos policiais do 9º BPM, e sempre quando acontece fato desse tipo, a sociedade não pode esquecer do Tatu Bola. Então a BM não vai aceitar, ela vai reagir com bombas de gás e efeito moral, porque nós não vamos aceitar que ninguém fique jogando pedras na corporação – reiterou o tenente-coronel Amorim.
* Com reportagem de Bárbara Müller, Lucas Abati, Bruno Teixeira e Larissa Roso