Depósitos de lixo irregulares, buracos, conservação das ruas e a própria falta de educação dos cidadãos de Porto Alegre. Problemas como estes, que surgem todos os dias em Porto Alegre e Região Metropolitana, estão entre os mais denunciados no aplicativo Pelas Ruas – iniciativa conjunta de Zero Hora, Rádio Gaúcha e RBS TV.
Lançado em março para ajudar moradores a relatarem problemas urbanos, o app para smartphones já tem mais de 14,5 mil usuários e ultrapassa 4 mil reclamações. Destas, cerca de 470 foram resolvidas.
Como ainda há muita coisa para melhorar, na quinta-feira (26) usuários do aplicativo foram convidados para um bate-papo na sede do Grupo RBS. Em debate durante uma hora, os principais desafios da cidade e possíveis caminhos para encará-los.
– Eu acredito que, quando o coletivo se envolve, a solução vem mais rápido – afirma Marília Fidell, presidente do Conselho de Desenvolvimento da Região Partenon.
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Veja, a seguir, as principais questões levantadas durante o encontro
Focos de lixo
Uma das principais reclamações do aplicativo é a quantidade de focos de lixo na cidade. O assunto incomoda usuários como Luiz Gustavo do Amaral Pires que, em sua comunidade, resolveu agir. No último sábado, reuniu vizinhos do Partenon para, em mutirão, limpar a Praça Arquiteto Demétrio Ribeiro, que serviu de depósito de resíduos por 35 anos. A prefeitura colaborou com a ação levando equipes da Cootravipa para ajudar na limpeza.
– Teve um resultado muito legal. A comunidade apareceu, conseguimos tinta, todo mundo veio ajudar. Houve uma manifestação cultural, a praça ficou com a cara da comunidade. Agora, estou esperando que a prefeitura coloque a placa de proibido colocar lixo, para que as pessoas deixem de descartar resíduos no local – afirma Pires.
Buracos
A questão dos buracos também foi discutida. O presidente da Associação dos Moradores da Bela Vista (Amobela), Luiz Felipe Irigaray, falou sobre o buraco na Rua Tauphick Saadi, que foi abordado em uma matéria do Pelas Ruas em 23 de junho – a cratera impediu por um mês que moradores de um prédio colocassem ou tirassem seus carros da garagem.
– Quando a gente fala bairro é apenas um limite geógrafico. Porto Alegre é uma só. Estamos falando de problemas que afligem a comunidade que mora ou passa nos locais. Aquele buraco estava no meio da rua, portanto ele atrapalhava todos: veículos, pedestres e moradores – explica Irigaray.
Transporte público e mobilidade
Outro assunto que interfere na vida dos cidadãos de Porto Alegre é a questão do transporte público e da mobilidade. No Pelas Ruas, são frequentes as reclamações sobre a falta de acessibilidade como em viadutos e terminais de ônibus.
Carolina Soares, da rede Minha Porto Alegre, contou que a organização recebe muitas queixas sobre atrasos de ônibus, mudança de rotas em transportes públicos e o tempo das sinaleiras de pedestres.
– Tem pessoas que têm dificuldade em mobilidade e o temporizador da sinaleira é curto. Exemplo disso é na frente do hospital Beneficência Portuguesa e do colégio Rosário, onde há travessia de crianças e pessoas doentes. A tendência é priorizar os carros, e não as pessoas que transitam pela cidade – afirma Carolina.
Educação das pessoas
Iniciativas como mutirões são uma forma de conscientizar as pessoas sobre a importância de preservar. Muitos casos de vandalismo e lixo depositados em terrenos baldios e praças ainda são uma questão cultural, de falta de educação de alguns cidadãos.
– Acredito que muitas pessoas ainda optam por tirar o lixo da frente de sua casa e depositam em qualquer praça ou terreno baldio. É uma cultura que precisa ser mudada com educação, ensinando as crianças na escola – explica Luiz Gustavo, do Partenon.
Prefeitura pede que problemas sejam formalizados no 156
O secretário da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Surb), Ramiro Rosário, ressalta a importância da fiscalização das pessoas e da imprensa. Ele avalia que o aplicativo Pelas Ruas, assim como outras iniciativas, conversam com o poder público e mostram as falhas. Segundo ele, Porto Alegre tem 200 focos de lixo irregulares e que, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) gasta por mês, cerca de R$ 900 mil. Para melhorar essa situação, a prefeitura está investindo na conscientização dos cidadãos nas escolas, comunidades de vulnerabilidade social, em pessoas que lidam com a reciclagem do lixo, catadores, para que as pessoas deixem de praticar o descarte irregular de resíduos.
– Intensificamos a fiscalização, estamos combatendo os clandestinos que prejudicam a própria coleta seletiva regular – afirma o secretário.
Rosário ressalta que é fundamental, além de denunciar à imprensa, que o cidadão abra protocolo na prefeitura pelo telefone 156. Uma das reclamações dos usuários é de que muitas vezes há demora na solução. Segundo o secretário, algumas demandas levam tempo por conta de outros fatores diretamente ligados à execução do trabalho.
– É muito importante que a pessoa acompanhe o protocolo e nos diga, como já aconteceu, de um serviço ter sido colocado como executado e na verdade não ter sido. É muito importante a fiscalização – afirma Rosário.
De acordo com o secretário, as pessoas podem checar o andamento dos protocolos pelo site da prefeitura. Sobre os buracos, principalmente os que se formam devido a vazamentos de água e esgoto, Rosário afirma que o cidadão não tem obrigação de saber se o problema é de responsabilidade do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) ou do DEP.
– Esse empura-empurra entre o Dmae e o DEP não pode acontecer. O objetivo é facilitar os fluxos de trabalho, as equipes estão sendo orientadas a procurar sempre a solução – diz o secretário.