Quando Porto Alegre foi anunciada como sede da Copa do Mundo de 2014, a cidade vislumbrou uma chance de subir de patamar. Impulsionada por investimentos e exposição global, a Capital aspirava ganhar um ar cosmopolita, com visual renovado, novas levas de turistas estrangeiros e mais segurança pública. Passados três anos desde o encerramento do torneio, os planos bateram na trave.
A frustração com as promessas pré-Copa não se limita ao legado de obras viárias incompletas. A herança imaterial do torneio também ficou aquém das expectativas: taxistas esqueceram as lições de inglês, restaurantes abandonaram os cardápios bilíngues, o investimento em um moderno centro de segurança não freou homicídios, e hotéis amargam taxas minguantes de ocupação.
Leia mais:
Trabalhadores já esqueceram o inglês e bares abandonaram cardápios bilíngue
As gaúchas que foram viver com australianos que conheceram em 2014
A Copa marcou uma inversão no número de visitantes de outros países que passam pelos centros de informação da cidade. Aumentava a cada temporada, e passou a cair depois da competição. Foram contabilizados 23,6 mil turistas em 2014, 9,7 mil em 2015 e, no ano passado, 9 mil – quase mil pessoas a menos do que no ano anterior ao torneio. O diretor de Turismo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Capital, Roberto Snel, vê com normalidade essa recaída:
– Todos os lugares que sediam um grande evento têm, depois, uma queda na procura. O destino "cansa" um pouco porque os holofotes estavam todos voltados para lá.
Não era essa a expectativa do setor hoteleiro.
– Sabíamos que nada aconteceria do dia para a noite, mas esperávamos que a divulgação internacional trouxesse um incremento no turismo externo ao longo do tempo. Não aconteceu – observa o presidente do Sindicato de Hotéis de Porto Alegre, Carlos Henrique Schmidt, lembrando que 12 hotéis fecharam desde que os alemães ergueram a taça.
Na avaliação de empresários e comerciantes, a esperança de Porto Alegre reluzir como o Guaíba aos finais de tarde foi prejudicada pela crise econômica nacional, mas também pela violência local e pela demora do município em encorpar seus atrativos turísticos. A revitalização do cais continua restrita aos croquis, a renovação da orla só deverá ter seu primeiro trecho concluído este ano, e o Mercado Público, incendiado ainda antes da competição, segue parcialmente interditado.
A insegurança é uma das razões mais citadas para os sonhos do município terem levado um 7 a 1 da realidade. A imagem de multidões de torcedores caminhando em paz pelas ruas centrais, vista nos dias de jogo no Beira-Rio, se mostrou tão ilusória quanto o hexa brasileiro – apesar dos R$ 120 milhões investidos em um centro integrado de comando e controle destinado a aumentar a vigilância sobre a cidade e facilitar o atendimento de ocorrências. A cifra de 488 homicídios dolosos e latrocínios registrada no ano anterior à Copa saltou para 745 mortes no ano passado – disparada de 53% em três anos.
Schmidt acredita que a onda de notícias negativas sobre o Brasil na imprensa mundial também desestimula o desembarque de turistas e dólares:
– Só se fala em corrupção e violência. No Rio, cartão-postal brasileiro, a situação está um caos. E, em Porto Alegre, estamos com uma cidade suja, esburacada, para não falar na insegurança.
A vantagem é que, se a Copa de 2014 está perdida em definitivo para o Brasil dentro de campo, fora dele Porto Alegre ainda pode virar o jogo.
– Seguimos trabalhando, buscando parcerias com Sebrae, Brigada Militar, prefeitura, para que as coisas melhorem – diz o presidente da Associação dos Comerciantes da Cidade Baixa, Moacir Biasibetti.