O corpo de Carine Gonçalves, encontrado na manhã desta terça-feira no Guaíba, em Porto Alegre, percorreu cerca de nove quilômetros desde que a casa em que ela vivia com a mulher, Daiane Silva, foi atingida por uma enxurrada na quinta-feira. O Arroio Moinho, que passa próximo ao local, transbordou, e a água invadiu de madrugada a residência na Rua da Represa, no bairro Coronel Aparício Borges.
Além de passar pela extensão do Arroio Moinho, atravessando inclusive tubulações entre as avenidas Bento Gonçalves e Ipiranga, o corpo percorreu boa parte do Arroio Dilúvio e foi encontrado no Guaíba por volta das 10h desta terça por um pescador. Ele amarrou o corpo no barco, levou até a margem e acionou o Corpo de Bombeiros. Logo depois, o pai e uma das irmãs de Carine foram ao local. Outros familiares chegaram posteriormente e participaram do reconhecimento.
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– Foram seis dias de desespero. A família está arrasada, nós queremos fazer o sepultamento. É o que podemos fazer – desabafou Luiz Roberto Gonçalves, pai da vítima.
Isandré Antunes, comandante da Companhia Especial de Busca e Salvamento dos Bombeiros, conta que nos primeiros dias a equipe focou-se no Arroio Moinho, onde encontrou dificuldade em função da quantidade de lixo e entulho acumulado.
– Foi muito difícil. Era muito volume de água e gastamos muito tempo em função do entulho. Para poder trabalhar, tivemos que fazer desvios, manejos no curso de água, para o nosso efetivo poder fazer as buscas nas tubulações e descartar que ela estava naqueles locais – diz o comandante.
Antunes afirma que cerca de 30 pessoas participaram das buscas desde quinta-feira. Cães farejadores, mergulhadores, bombeiros por terra e por água trabalharam no resgate. Mas foi o pescador Paulo Ricardo Ribeiro, 35 anos, que localizou o corpo no Guaíba.
– Estava pescando e avistei algo que parecia um boneco. Me aproximei e vi que não era. Vi que tinha uns brinquinhos e uma tatuagem que eu vi na notícia do jornal. Amarrei e trouxe pelo braço até às margens – contou.
ZH questionou a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos se a macrodrenagem no Arroio Moinho, um dos projetos do DrenaPOA que não saiu do papel, poderia ter evitado a tragédia na Rua da Represa. A assessoria de imprensa da pasta informou que essa região corresponde à parte alta do bairro, que não será contemplada nas obras com verba do PAC Prevenção. A pasta justifica que o governo federal não aceitava projetos onde precisaria haver remoções de moradias, e nessa região seriam necessárias muitas desapropriações. Questionada também sobre os motivos do incidente e se a quantidade de lixo e entulho no arroio pode ter colaborado para a enxurrada, a pasta afirma que "o grande volume de água foi o que mais influenciou no extravasamento do arroio no local".