No dia seguinte à chuva que deixou Porto Alegre caótica, com diversos pontos de alagamento, moradores da Vila Farrapos e do Bairro Humaitá ainda sofrem com as consequências.
Apesar de a sexta-feira (2) ter amanhecido com sol tímido, a água que invade as casas da área entre as ruas Voluntários da Pátria, Adélino Machado de Souza e Maria Paula Leal é abundante e continua trazendo transtornos para quem mora lá. Roque Dutra Campos, 57 anos, mora há 40 anos na região. Pela primeira vez, ficou só com a roupa do corpo após uma chuvarada.
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– Eu perdi tudo, tudo! Não consegui salvar meus documentos, nem comida, nem roupa. Não sei o que vou fazer – lamenta Roque, que teve de dormir em seu caminhão na noite de quinta para sexta-feira.
Ele ressalta que os alagamentos na região não são de hoje, mas dessa vez não teve tempo de evitar um prejuízo tão grande porque estava trabalhando.
Faz uma semana que a auxiliar de serviços gerais Maria Regina da Rosa, 52 anos, comprou um armário novo para a cozinha – que tem a marca da água até a metade do móvel. Quando a água começou a entrar, ela estava em casa e, com a ajuda do filho de sete anos, conseguiu salvar a pacotes de arroz e outros alimentos que estavam guardadas no mobiliário. Para levantar sofás e o restante da mobília, teve de esperar pela chegada do filho mais velho, de 17 anos.
– Eu nem comecei a pagar o armário ainda e ele já vai ficar podre. Por sorte temos o segundo andar e não precisamos sair daqui, mas e quem não tem? Fica um sentimento de tristeza, né? – lastima Maria.
O morador Elói da Silva Flores, 51 anos, estava sozinho em casa quando a água começou a subir. Não conseguiu erguer freezer, geladeira, máquina de lavar, sofá. Para ele, a situação se agrava devido ao funcionamento precário da casa de bombas da Vila Farrapos, que fica bem em frente do ponto alagado.
– Nós estamos em uma bacia. Esse é o nosso grande problema: eles desligam a casa de bombas, as máquinas não funcionam direito – relata Elói, que está sem perspectivas para reparar os danos deixados pela água.
– É a primeira vez que estou desempregado, não tenho como consertar as coisas. Agora é torcer e pedir a Deus para baixar a água e parar a chuva – diz.
De acordo com o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), na quinta-feira (1º), o nível da água estava quase atingindo os painéis de controle da casa de bombas da Vila Farrapos. Para evitar que houvesse pane no sistema, o órgão desligou as máquinas, o que acabou ocasionando o aumento do alagamento na região. Segundo o departamento, a casa de bombas foi religada na manhã desta sexta-feira, o que deve fazer com que a água vá baixando aos poucos.