A tarde chuvosa e cinza desta terça-feira (30) foi de emoções e despedidas para os vovôs e vovós que frequentam o Vivências do Sul Centro Dia Sênior, na zona sul de Porto Alegre. Pouco mais de um mês convivendo com tartaruguinhas que nasceram no pátio do centro de atividades para idosos, chegou o momento de os velhinhos dizerem adeus aos xodós da instituição. Acompanhados por funcionários e familiares de funcionários da instituição, a turma atravessou a rua até o clube Veleiros do Sul para colocar os nove bichinhos no Guaíba.
– Estávamos esperando por esse dia. Desde o início, sabíamos da importância dos animais viverem em seu hábitat natural. Queríamos compartilhar o bem que estamos fazendo para a natureza e que os idosos passassem esse ensinamento para as crianças – conta o sócio-diretor da instituição, Thiago Lopes, pai dos gêmeos Caio e Marina, sete anos, que acompanharam a despedida com olhares atentos e curiosos.
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O clima era como uma festa de despedida. Um misto de felicidade e tristeza – como quem já sente saudade antes mesmo de ver alguém partir, mas sabe que, no fim, vai ficar tudo bem – tomava conta do ambiente. Antes de colocarem as tartaruguinhas no Guaíba, os velhinhos aproveitaram para fazerem um último carinho nos animais.
– Faz cócegas! – falavam, sorrindo.
Apegada, Zilá Gonçalves Rodrigues, 90 anos, conversava diariamente com os filhotes. Para ela, que assumiu o papel de dinda das tartaruguinhas – mas "só nas horas boas", como diz – só o fato de ter passado um tempo com os bichinhos já valeu a pena.
– Eu nunca tinha visto um desses na minha vida! Foi muito bom ter vivido essa experiência. A gente fica triste de dar tchau, mas sabe que agora eles vão viver melhor, né? – comenta, emocionada.
Data foi escolhida para evitar que mais tartarugas sumissem
Em 17 de abril, 12 tartaruguinhas nasceram no Vivências do Sul. O pátio da instituição foi a terra firme escolhida pela mãe para o depósito dos ovos. Coincidência ou não, a dúzia de bichinhos foi cuidada por cada um dos 12 vovôs e vovós que frequentam o centro. Mas, em um dia movimentado no local, com muitas atividades, três sumiram e não foram mais vistas nos arredores. O laço afetivo criado foi tanto que a falta foi sentida instantaneamente.
– Eles chegavam e iam direto nas tartaruguinhas, logo viram que três não estavam lá. Eles sentiram falta, perguntavam o que tinha acontecido, se elas iam voltar – comenta Livia Zimmermann, 54 anos, que passa os dias na instituição há cinco meses e acompanhou a trajetória dos filhotes desde o início.
De acordo com Livia, o dia para colocar os bichinhos de volta ao Guaíba foi escolhido justamente para evitar que mais tartarugas sumam:
– Cada uma que some é uma chance a menos de elas voltarem para colocar os ovinhos. A nossa expectativa é de que essas tartaruguinhas voltem para desovar no mesmo lugar onde nasceram.
Segundo o biólogo Clóvis Bujes, a atitude da turma foi correta, quando nascem, os filhotes devem ir para a água. Como a mãe veio do Guaíba, é normal que os animais voltem para o seu habitat natural. De acordo com ele, as tartarugas costumam só sair dos rios, oceanos e mares por dois motivos: para encontrar nutrientes, quando necessário, ou para dar sequência ao ciclo da vida.