– Eu fumo nessa janela todos os dias pela manhã. Imagina se eu estivesse aqui na hora que o galho caiu? – questiona a dona de casa e estudante de serviços sociais, Nara Iolanda da Silveira Mesquita, de 54 anos, enquanto olha o buraco deixado pelo galho da Tipuana que caiu sobre o telhado de sua casa.
Quando a chuva começou a cair sobre Porto Alegre na quinta-feira, Nara já ficou apreensiva. Desde 2013 ela pede à prefeitura a remoção da árvore que há anos ameaça a estrutura do prédio onde mora, na Rua Caxias do Sul, bairro Passo D'Areia. As raízes dessa mesma árvore já causaram danos estruturais em seu apartamento, que fica no andar térreo de um prédio de quatro andares.
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– Precisei fazer uma contenção no muro e chamar pedreiros para fazer vigas do lado de fora, porque o muro ia cair – diz, enquanto mostra a rachadura no muro e no assoalho da peça de sua casa onde guarda móveis que recolhe para doação.
As tipuanas da rua já causaram prejuízos em residências do bairro. Em setembro de 2015, uma outra árvore caiu sobre o telhado do prédio que fica na esquina com a Avenida dos Industriários. Um outro vegetal - da mesma espécie - já foi removido da frente do edifício de Nara.
– As raízes dessa estavam causando o afundamento do pátio do prédio. Quando cortaram a árvore, tinha essa parte toda oca – aponta.
Ela sonha em parar de se preocupar com a árvore que ameaça sua casa, e mantém todas as providências que tomou registradas em um caderninho. São cerca de 10 páginas de anotações sobre números de protocolos, visitas feitas por técnicos da prefeitura, nomes, datas, telefones e, principalmente, o que foi feito e o que ficou prometido.
– Em abril do ano passado um técnico da prefeitura prometeu que ia retirar duas árvores. Uma foi, a outra é essa que perdeu um galho sobre o meu telhado hoje – lamenta.
A reportagem de ZH chegou ao local junto com uma equipe da Secretaria de Serviços Urbanos (Surb), que já estava iniciando o processo para remoção do galho. No fim da manhã chuvosa, o caminhão dos funcionários da Surb já estava cheio de galhos de outras árvores de outros nove pontos da cidade. Agora, Nara aguarda a visita de uma equipe da Defesa Civil, que ficou de lhe levar uma lona para cobrir provisoriamente o telhado. Ela afirma que precisará abrir um protocolo junto à prefeitura para ser ressarcida do valor do conserto.
Ela agora tem uma nova anotação para escrever em seu caderno: "Desde o dia 07/02/2013 eu peço a remoção desta árvore. No dia 26/05/2017 um galho dela se desprendeu em caiu sobre o telhado da casa que fica no pátio. Agora tenho um protocolo emergencial para retirada desta árvore".
O que diz a Surb, por meio de nota:
"Nestes casos, os moradores podem abrir um processo administrativo pedindo ressarcimento pelos danos. Na segunda-feira, uma equipe da Surb fará uma vistoria da árvore no endereço, a fim de verificar se há necessidade de realizar uma poda ou supressão. A Surb ficou encarregada das demandas de podas e supressões a partir deste ano e, até o momento, trabalha com equipes próprias para fazer apenas as emergências. Desde 2014, Porto Alegre não conta com contrato de podas, o que gerou mais de 10 mil demandas sem atendimento (matéria já publicada pela ZH)."