Duas obras gaúchas que tiveram participação da Odebrecht, e que são alvo de investigação da Operação Lava Jato, receberam do governo federal quase R$ 1 bilhão entre 2000 e 2013. A mais onerosa aos cofres públicos é a ampliação do Trensurb até Novo Hamburgo. As obras foram executadas entre 2008 e 2013. O que chama a atenção nesta expansão da linha do metrô é o reajuste que foram aplicados no contrato. Ainda quando era projetada, a obra era avaliada em R$ 360 milhões. Mas custou R$ 953 milhões.
Cinco estações foram construídas ao longo de 9,3 quilômetros pelo Consórcio Nova Via, formado pelas empresas Norberto Odebrecht, Andrade Gutierrez, Toniolo/Busnello e T’Trans. A inauguração das novas estações foi adiada diversas vezes. A previsão inicial indicava 2011 como data de término das obras. Foi postergada para 2012 e, depois, para o final de 2013. Em julho de 2012, a Trensurb começou a operação comercial das duas das cinco novas estações: Rio dos Sinos, em São Leopoldo e Santo Afonso, em Novo Hamburgo. As demais entraram em funcionamento em novembro de 2013.
O inquérito de número 4.434, aberto por ordem do ministro do STF Edson Fachin, investiga Eliseu Padilha (PMDB), ministro da Casa Civil, e Marco Maia (PT), deputado federal. Também são investigados Marco Arildo Prates da Cunha e Humberto Kasper (ambos ex-diretores do Trensurb). Ainda é alvo da apuração o ex-ministro Paulo Bernardo (PT).
A outra obra investigada é na obra da Terceira Perimetral de Porto Alegre. Ela foi realizada entre 28 de dezembro de 2000 e 2 de março de 2003. O valor dos contratos é de R$ 22,27 milhões. Na petição 6.800, é citado o depoimento do então diretor de desenvolvimento de negócios da Odebrecht João Borba. Ele afirma ter recebido pedido de Benedicto Júnior, antecessor de Marcelo Odebrecht no comando da empreiteira, para repassar R$ 119 mil para liberação de pagamentos ligados à Perimetral de Porto Alegre.
Em setembro do ano passado, a Polícia Federal divulgou e-mails que foram trocados entre os dias 24 e 26 de março de 2004. A origem da conversa é uma correspondência enviada por João Borba a Benedicto Júnior. Os pagamentos deveriam ser efetuados no dia 12 de abril de 2004, sendo R$ 29 mil para uma pessoa identificada pelo apelido Animal. O pagamento deveria ocorrer em São Paulo. O outro repasse, no valor de R$ 90 mil deveria ocorrer para uma pessoa de apelido Três. Este montante seria entregue em Porto Alegre.
Contrapontos:
O que diz o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS)
Por meio de sua assessoria de comunicação, o ministro afirmou que não vai se pronunciar sobre o caso no momento.
O que diz o deputado Federal Marco Maia (PT-RS)
Em entrevista à Gaúcha, o deputado Federal Marco Maia (PT-RS) disse que já esperava a aparição de seu nome na lista, porque já estava entre os citados na delação de Cláudio Melo Filho, vazada no fim do ano passado. Maia disse que o processo é normal "para que possamos nos defender dessas acusações caluniosas". O deputado também criticou a forma como as delações são utilizadas nas investigações, pois o delator faz as acusações para se livrar de um crime cometido. Maia destacou que assim que, quando for intimado da abertura do processo e ter acesso ao texto, vai tomar as medidas judiciais cabíveis.
O que diz Humberto Kasper, ex-diretor-presidente da Trensurb
Kasper disse que não conhece o assunto e não sabe do que se trata. Por isso, não tem como me pronunciar.
O que diz Marco Arildo Prates, ex-diretor-presidente da Trensurb
A reportagem ainda não conseguiu contato com o ex-diretor.