Um documento enviado pela prefeitura de Porto Alegre na última sexta-feira causou surpresa a diretores de escolas municipais. Assinado por uma nutricionista da Secretaria da Educação, o papel informa sobre a diminuição na quantidade de carne que será enviada às instituições de ensino para a merenda, inclusive proibindo a repetição do item pelos alunos durante as refeições.
O memorando enviado aos diretores diz que foram feitas "pequenas alterações", sem comprometer a qualidade nutricional das refeições. "Haverá redução de gêneros, com pretensão de atendimento prioritário aos alunos, e controle da alimentação de adultos". A justificativa, segundo o documento, é a "escassez de recursos municipais".
O texto reforça que a alimentação dos educadores só é permitida quando eles estiverem acompanhando as turmas. O que mais chamou a atenção dos diretores é o ponto, no fim do documento, que trata das quantidades de carne.
"Neste mês fizemos algumas alterações nas quantidades de carnes que chegarão às escolas. Informamos que a necessidade de proteína para o período é suficiente, com uma porção de carne ou ovos. Não é autorizada a repetição de carnes, nem para alunos, nem para adultos", diz o memorando.
Leia mais
Ônibus da Capital retomam horários regulares nesta segunda-feira
Rede pública volta às aulas cercada de desafios
Após protestos, escolas antes ocupadas ainda apresentam problemas
Questionado pelo blog na noite de domingo, o secretário municipal de Educação, Adriano Naves de Brito, confirmou que as mudanças ocorreriam em função do corte de gastos e, também, da necessidade de adaptação das compras às entregas dos fornecedores – da agricultura familiar.
No entanto, em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta segunda-feira , ele rejeitou que a crise financeira tenha impacto na medida. E disse que o documento assinado pela nutricionista não passou pelo seu aval.
– O começo do memorando menciona algo que não passou pela minha deliberação, no sentido de fazer impactar a restrição orçamentária sobre a alimentação dos alunos – disse na entrevista, ao afirmar que o documento "complica as coisas desnecessariamente".
Questionado sobre o fato de as escolas estarem localizadas em regiões com maior vulnerabilidade social e muitos alunos terem na merenda escolar a única refeição do dia, o secretário rejeitou prejuízos aos estudantes.
– Não há prejuízo alimentar aos alunos. O valor nutricional está garantido – disse, ao reforçar que foi feita uma análise criteriosa pela equipe de nutrição da secretaria e que o cardápio respeita a necessidade de calorias para uma boa alimentação.
A nutricionista Caroline Pereira concorda que não há prejuízo aos estudantes na substituição de carne por ovos ou na restrição nas repetições de proteína.
– Nas escolas geralmente se faz uma média da necessidade proteica, e uma porção por aluno está adequada. Até porque o cardápio normalmente é equilibrado com feijão, arroz e salada – afirma.
Diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Anísio Teixeira, na zona sul de Porto Alegre, a professora Rosele Cozza Bruno de Souza afirma que ficou surpresa ao ficar sabendo da medida. Segundo ela, a restrição de alimentação aos educadores já era uma prática adotada nas escolas, mas que o controle na quantidade de carne aos estudantes é preocupante.
– Essa restrição, de forma tão incisiva, nunca tínhamos recebido. Os alunos sempre puderam repetir. Só algumas vezes, em uma data especial, quando fazíamos um cardápio diferenciado, havia um limite no número de repetições. Mas no dia a dia, não.
Refeições dos professores
O documento também reforça uma orientação que já existia nas escolas da rede, de que os professores e funcionários somente poderão comer a merenda se estiverem acompanhando os alunos, por razões pedagógicas.
Veja o memorando: