A confirmação de que o metrô de Porto Alegre não terá nenhum investimento federal – o que sepulta um projeto discutido há décadas – não foi lamentada pelo prefeito da Capital, Nelson Marchezan. Afirmando que já não contava com esses recursos, ele comentou, porém, que essa foi uma oportunidade perdida.
– Eu, sinceramente, fico muito feliz que a prefeitura não tenha entrado em mais essa aventura. Porque nós entramos em algumas aventuras nas obras da Copa. Isso hoje é um problema para a cidade de Porto Alegre. Mas é lastimável que nós não tenhamos ainda o metrô que outras capitais já têm – afirmou na tarde desta quinta-feira, em entrevista coletiva no Paço Municipal em que apresentou, ao lado do secretário da Fazenda, Leonardo Busatto, um balanço sobre as contas da prefeitura em janeiro.
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Mais cedo, o Ministério das Cidades confirmou que não há mais qualquer previsão orçamentária para o projeto do metrô – o montante total perdido é de R$ 3,54 bilhões. Para Marchezan, os recursos foram prometidos em tempos de bonança econômica:
– Se naquele momento de crescimento nós não fizemos os investimentos possíveis e necessários em Porto Alegre, como o metrô, é evidente que não seria agora, em um momento de crise das finanças públicas, que esses investimentos estariam à disposição.
O prefeito afirmou ainda que, para ele, esses recursos nunca existiram: foi um projeto que estava no orçamento do governo federal e que as gestões anteriores não conseguiram transformar em realidade.
– Isso é passado. Estou tratando com a realidade. O metrô deixou de ser algo que a gente fale. Nós não falamos em metrô na campanha porque já temos a visão clara de que não é possível sonhar neste ano, no ano que vem, com metrô em Porto Alegre.
No fim de dezembro do ano passado, uma portaria publicada no Diário Oficial da União informava que parte dos recursos provenientes de financiamento – R$ 1,77 bilhão – havia sido cortada. Mas havia dúvidas sobre outro R$ 1,77 bilhão que a então presidente Dilma Rousseff havia garantido no dia 12 de outubro de 2013, verba que o governo federal repassaria a fundo perdido.
Sobre alternativas para o transporte na Capital agora que o metrô está longe dos planos, o prefeito afirmou que a prioridade é concluir as obras inacabadas da Copa, que "estão pendentes e atrapalhando o desenvolvimento da cidade".
– Nós não temos uma resposta imediata. A prioridade é concluir essas obras inacabadas. Quando eventualmente tivermos alguma possibilidade, através de recursos de financiamento, a fundo perdido, da iniciativa privada, ou quando houver recursos do Tesouro, essas serão as prioridades. Por enquanto, os investimentos realizados serão aqueles em que temos recursos extra-orçamentários – explicou Marchezan.
Segundo o Ministério das Cidades, o cenário econômico e as dificuldades que os governos estaduais e as prefeituras têm enfrentado motivaram uma revisão da carteira de projetos de mobilidade urbana. Havia um conjunto grande de empreendimentos selecionados há mais de um ano, dos quais os governantes não conseguiram apresentar a documentação necessária para contratação. O projeto do metrô desacelerou desde 2014 por questões financeiras.
Na modelagem desenhada em 2013, o projeto custaria R$ 4,8 bilhões, divididos entre União (R$ 1,77 bi), Estado (R$ 1,08 bi), prefeitura (R$ 690 mi) e iniciativa privada (R$ 1,303 bi). Esse valor aumentou posteriormente, quando ficou claro que o Piratini não teria a verba para a sua parte. Em 2016, o governo federal passou a defender que o metrô fosse feito por uma parceria público-privada.