Na coletiva de imprensa que anunciou o secretário de Segurança Pública da Capital, Kleber Senisse, não foram reveladas ações imediatas para combater a violência. Pelo contrário: quando questionado sobre a guarda municipal e o monitoramento por câmeras na Redenção, por exemplo, o coronel da Reserva da Brigada Militar (BM) informou que, primeiro, precisa "entender a estrutura da prefeitura".
– Em um primeiro momento, estamos fazendo um grande levantamento do processo existente, das ferramentas que a prefeitura possui – disse o coronel quando questionado sobre o que a Capital pode receber a mais de segurança.
Além de Senisse, o prefeito Nelson Marchezan anunciou nesta terça-feira a delegada Claudia Crusius como adjunta da pasta.
– Esses novos nomes seguem a linha de nosso compromisso de oferecer a Porto Alegre uma equipe de trabalho experiente, qualificada e preparada para enfrentar os desafios de nossa cidade – disse Marchezan.
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Tida como uma das pastas-chave pela administração municipal, a secretaria de Segurança Pública foi exaustivamente mencionada por Marchezan em sua campanha. No plano de governo, o prefeito diz que "todo problema do munícipe é uma responsabilidade da prefeitura, e isso inclui um dos direitos básicos do cidadão, que é a segurança".
Conforme Marchezan, cabe à administração "tornar os locais onde são oferecidos serviços públicos um local seguro para o cidadão". Para tirar as propostas da esfera de intenções, Marchezan escolheu um oficial formado em Segurança de Trânsito pela UFRGS, com especialização em Políticas Estratégicas em Segurança Pública.
Nascido em Resende, no Rio de Janeiro, Senisse veio para Porto Alegre com 10 anos. Com mais tempo de vida dentro da Brigada Militar (BM), do que fora dela, chega aos 56 anos tendo dedicado 35 à corporação. Desde o seu ingresso na BM, em 1980, atuou em diversas frentes. A primeira delas foi no 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), que atende a zona sul da Capital, onde permaneceu por seis anos. Por três, prestou seus serviços especificamente na comunidade da Restinga. Já no fim da década de 1980, serviu o Batalhão de Operações Especiais (BOE) por dois anos. A partir de 1989 ingressou na aviação da Brigada Militar, onde atingiu o posto de comandante. Entre 2004 e 2008 foi cedido à Secretaria Nacional de Segurança Pública como coordenador-geral da Aviação, chegando a atuar nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Também esteve à frente do grupo da BM que foi à Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. Quatro anos depois, quando o evento esportivo ocorreu no Brasil, Senisse coordenou a Câmara Temática de Segurança do Comitê Gestor da Copa de 2014 do governo do Estado. Casado e pai de duas mulheres de 31 e 32 anos, está aposentado desde agosto de 2014 quando ocupava a patente de coronel.
ENTREVISTA
Qual é o tamanho do desafio de assumir essa função diante da crise de segurança pela qual passa Porto Alegre?
Desde o momento em que entrei na Brigada Militar, em 1980, a segurança pública foi um desafio grande. Aliás, segurança pública nunca é um desafio pequeno, pois não se consegue medir resultados a curto prazo. Precisa ser trabalhada a médio e longo prazo.
O que Porto Alegre pode receber a mais de segurança que não está sendo realizado hoje?
Em um primeiro momento, estamos fazendo um grande levantamento do processo existente, das ferramentas que a prefeitura possui.
De que forma a sua experiência irá contribuir?
Trabalhei minha vida toda em segurança pública. No início de carreira, na parte de execução. Depois, na parte final, como gestor de segurança pública. Então, acredito que essa experiência, tanto minha como da delegada Claudia, vai fazer com que existam esses componentes de conhecimentos agregados a uma visão diferenciada da segurança pública. Hoje temos um potencial tecnológico muito maior do que tínhamos antigamente. E este potencial tecnológico será empregado em prol da comunidade.
Durante a campanha, Marchezan disse que assumiria, junto com Estado e União, a responsabilidade pela segurança pública de Porto Alegre. Qual vai ser o papel da sua pasta neste processo?
O combate à criminalidade não se faz somente com ações diretas de polícia. Há atribuições legais do Estado e da União em relação à segurança pública, mas o município pode e irá trabalhar como facilitador, como integrador. Temos toda uma parte de tecnologia através do Centro Integrado de Comando (Ceic), que será utilizado. Temos a Guarda Municipal, que trabalha dentro da esfera específica do município. Então, temos a condição se sermos agentes integradores de inteligência, que nos permite termos uma ação direta. Nosso maior objetivo é trabalhar dentro de uma facilitação dos órgãos que têm missão constitucional.
Efetivamente, como a Guarda Municipal irá agir no seu governo?
Estamos chegando agora. Temos de conhecer a estrutura. Não saberia te dizer neste momento como vai funcionar a Guarda Municipal. A gente tem uma visão geral do processo, mas não conhecimento específico. Temos de nos informar para então criar uma plataforma de gestão para que ela se integre dentro desse sistema de segurança pública.
Mas a Guarda Municipal vai ficar limitada à proteção patrimonial de bens do município?
A Guarda Municipal tem a sua missão constitucional. Não vamos criar atuações que venham de encontro à legislação. Vamos colaborar como mais um agente da segurança.
Marchezan sugeriu em sua campanha que câmeras de reconhecimento facial e pardais que monitoram placas de carros roubados e as entradas e saídas de Porto Alegre seriam parte da solução para a segurança pública. Quando e como será viabilizado isso?
Estamos iniciando um processo de conhecimento da tecnologia existente no município. Sabemos que ter o cercamento eletrônico, com a identificação facial e de veículos, é uma possibilidade muito grande, mas não temos como dizer agora que resultados teremos e quando teremos. Executar o plano de governo faz parte da nossa missão, mas há um processo a ser seguido.
O cercamento eletrônico já é uma realidade no Parque da Redenção. Esse monitoramento por câmeras é suficiente ou tem como a prefeitura melhorar a segurança no locais públicos, o que, aliás, é uma das promessas do atual prefeito?
Vou ter de ver como tudo funciona. Não saberia dizer se o que tem lá é o ideal ou se tem de melhorar e onde tem de melhorar.
Quais são suas primeiras ações?
Estamos em um processo de reuniões com os órgãos de tecnologia da prefeitura, como a Procempa e o Ceic. Depois, vamos na Guarda Municipal. Temos de entender a estrutura de prefeitura.
O senhor está preparado para ser cobrado pela população para que Porto Alegre seja mais segura, já que Marchezan deixou claro que a prefeitura também é responsável pela segurança pública?
Preparado a gente sempre está por ser morador de Porto Alegre, independentemente de ocupar ou não uma função pública. Então, na verdade, trata-se de uma oportunidade de tentar dar um retorno para a população. Toda a melhoria que a gente conseguir executar vai ser benéfica para todos nós.