A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) pretende implantar, até o fim do ano, faixas exclusivas para ônibus em oito vias de Porto Alegre. Entre as contempladas no projeto, está a Ipiranga, uma das principais avenidas da cidade.
A faixa se estenderá da Borges de Medeiros à Antônio de Carvalho e deve funcionar apenas em horários de pico – das 6h às 9h e das 17h às 19h. A demarcação será nos moldes da que é aplicada na Avenida Cavalhada: uma listra contínua azul apontando a restrição de veículos à direita.
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– O objetivo é priorizar o transporte coletivo, para que o tempo de viagem seja reduzido e se torne mais regular. Hoje, é muito irregular devido às dificuldades de circulação. Com a faixa exclusiva, o tempo é mais planejado, cumpre-se melhor a programação – afirma o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.
O gestor cita a mudança realizada no trecho Cavalhada-Nonoai-Teresópolis, na Zonal Sul, como um exemplo positivo:
– Tivemos um aumento em torno de 4% nos usuários do transporte coletivo naquela região. A população compreende, e o número de autuações por invasões do corredor (infração leve) são raras.
O que torna mais complexa a implantação na Ipiranga é o elevado volume de veículos que circulam na avenida, além da presença de árvores junto ao meio-fio. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) trabalha com o órgão de trânsito para avaliar o que precisará ser feito com vegetais que estão inclinados na direção da pista. Outra via que merece atenção extra é a José do Patrocínio, cuja faixa de ônibus será instalada entre a Loureiro da Silva e a Sebastião Leão, reduzindo o número de vagas de estacionamento.
Cappellari acredita que, com tempos de viagens menores, mais pessoas passarão a utilizar o transporte público e, consequentemente, mais barata será a operação do sistema. A Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) alega que, seis meses depois de os novos contratos terem entrado em vigor na Capital, o prejuízo acumulado é de R$ 40 milhões – um dos motivos seria a queda de 7,35% no número de passageiros.
As datas para início da demarcação ainda não foram definidas, mas a primeira contemplada será a Assis Brasil, seguida pela Icaraí. As outras que devem contar com corredor até o final de dezembro são Venâncio Aires, Loureiro da Silva, Mauá e Sertório. A EPTC avalia se lotações utilizarão os espaços. Em relação aos táxis, só será permitido embarque e desembarque.
A criação das faixas tem amparo na lei que institui a Política Nacional de Mobilidade Urbana, sancionada em 2012. A legislação afirma, em seu artigo 6º, que é orientada por diretrizes como prioridade "dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado".
Cuidado com conversão e sinalizações
A iniciativa é vista com bons olhos por especialistas na área. Conforme João Fortini Albano, professor da UFRGS e doutor em Transportes, a faixa libera o trânsito para a maior parte das pessoas, que estão em ônibus e não carros.
– É uma democratização do uso do sistema viário, que atualmente privilegia muito o proprietário do transporte individual, responsável por ocupar uma área maior e uma lotação menor. A maioria dos locais em que foram implementadas faixas exclusivas teve resultados positivos – afirma Albano.
O professor chama atenção para o cuidado que será preciso ter com as conversões à direita feita pelos automóveis na Ipiranga, que precisarão cruzar o corredor. A sinalização será fundamental, e o fato de a faixa exclusiva funcionar só em horários de pico na via (em algumas, será 24h) minimizará a questão.
Diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Luis Antonio Lindau considera a medida interessante e diz que está de acordo com o que ocorre em outras cidades brasileiras, como São Paulo. Ele salienta a maior possibilidade de cumprimento da tabela horária, um dos itens mais apreciados pelos passageiros.
– Tirar o ônibus do congestionamento é superimportante. Isso chega em boa hora, mas há espaço para muito mais. Espero que seja só o início. Temos de olhar mais para o transporte coletivo e para o transporte não motorizado, ou seja, calçadas e faixas de bicicleta. Temos de começar a resgatar o espaço para as pessoas – analisa.