Na tarde desta quarta-feira, o saguão da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) virou palco da manifestação de alunos que ocupam escolas no Rio Grande do Sul. No seu último dia à frente da Seduc, o secretário Vieira da Cunha (PDT), que pouco antes havia tido seu pedido de exoneração assinado pelo governador José Ivo Sartori, ouviu por mais de duas horas cerca de 100 estudantes e representantes de entidades estudantis.
Sob aplausos dos colegas, ocupantes revezavam-se no microfone para falar de problemas específicos dos seus colégios – tão variados quanto infiltrações, quadras esportivas esburacadas, sucateamento ou ausência de laboratórios e bibliotecas e má qualidade das merendas.
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Em comum, protestavam contra o PL 44/16, que avaliam abrir brecha para privatização do ensino público. Ao final, foram entregues a Cunha documentos de 50 escolas pedindo melhorias. O encontro ocorreu 24 horas depois de uma reunião com baixa adesão na Seduc, na qual nem o secretário comparecera, e após crescerem as reclamações dos estudantes quanto à lentidão do governo para buscar diálogo.
– A gente sabe que a situação das escolas chegou ao limite, muitas escolas estão em condições indecentes – disse Vieira da Cunha, entre interrupções e gritos de protesto de alguns participantes – Há dinheiro previsto no orçamento, o desafio é fazer que chegue à escola.
O secretário afirmou que a Seduc e a Secretaria da Fazenda elaboram um programa para agilizar a transferência de recursos para as escolas, simplificando a execução de obras mais simples que hoje passam por licitação. A proposta é que diretores tenham autonomia para chamar prestadores de serviços por carta-convite.
Vieira também pediu que os alunos participem ativamente da fiscalização na execução das obras licitadas, e garantiu que um grupo de trabalho irá avaliar cada demanda apresentada. Cobrado pelos alunos sobre sua opinião do PL 44/16, Vieira afirmou que na segunda-feira uma reunião do PDT irá formalizar um posicionamento do partido.
– O encontro foi positivo por que foi o primeiro diálogo entre governo e manifestantes e pela perspectiva de as demandas serem atendidas – avaliou Marcos Adriano Prestes, presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas (Uges) – Se as ocupações vão continuar ou parar, isso depende de cada escola.
Enquanto isso, acirram-se os ânimos em algumas ocupações. Após um tumulto que resultou em alunas feridas na segunda-feira na escola Protásio Alves, ontem à noite duas dezenas de estudantes, pais e professores contrários às ocupações foram ao Palácio Piratini tentar uma audiência com o governador. Não conseguiram, e avaliam pedir para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) apoiar a desocupação e a volta às aulas.