Uma solução diferente do que ao porto-alegrenses estão acostumados a ver no trânsito da Capital é aposta da prefeitura para tentar desafogar o caótico trânsito da Zona Sul em horários de pico. Até o fim do ano, um trecho de 300 metros da Avenida Wenceslau Escobar ganhará uma faixa com sinalização reversível: ora permitirá o fluxo no sentido Centro, ora no sentido bairro.

– Isso é uma coisa muito utilizada em rodovias, mas não em áreas urbanas. É uma novidade – disse a gerente de planejamento de trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Carla Meinecke, que prevê o início das intervenções no local para o fim de agosto.
Leia mais:
Vereadores devem votar indicação de faixa para ônibus e lotações na Avenida Ipiranga
Obras de revitalização da orla ganham estruturas metálicas
Segundo a EPTC, a tática já é usada em Porto Alegre, na Avenida Oscar Pereira e na Lomba do Pinheiro, porém sem o auxílio da tecnologia. Nesses locais, a sinalização é feita com cones e há agentes de fiscalização orientando os motoristas. A medida serviu de inspiração para a mudança na Wenceslau Escobar, onde um projeto de duplicação da via, por exemplo, precisaria de mais recursos, além de exigir desapropriações.
No trecho entre a Rua Professor Xavier e a Avenida Coronel Marcos, as duas faixas existentes – que somam 10 metros de largura – serão transformadas em três. A central terá circulação em ambos os sentidos: na parte da manhã, provavelmente em direção ao Centro e, no restante do dia, no sentido bairro. Para não confundir os motoristas, os horários devem ser fixos – inclusive aos finais de semana –, e a sinalização não será nada discreta. Uma espécie de grid de Fórmula-1 será instalado no local para, com sinalização luminosa, indicar quais são as faixas liberadas para circulação em cada sentido. Haverá, ainda, um "trecho de transição" demarcado na pista.
A mudança não será a única no trânsito da região. No trecho da Coronel Marcos de 2,2 quilômetros que começa na Avenida Tramandaí e segue até o fim da faixa reversível, serão feitas diversas alterações, como a eliminação de uma rotatória, o fim do terceiro tempo nos semáforos da Rua Déa Coufal, a remoção de canteiro central em vários pontos (sem necessidade de remoção de árvores), com implantação de travessia de pedestres integral (de tempo único), e o reposicionamento de algumas paradas de ônibus para aproximá-las das travessias. Também devem ser implantados lombadas físicas e controladores eletrônicos de velocidade em pontos a serem definidos.
– Vamos realizar a obra por partes, começando pela faixa reversível, que é o gargalo desse trecho. Acreditamos que os motoristas e pedestres terão um ganho significativo – disse Carla.
Ao todo, os trabalhos devem custar R$ 315 mil. Conforme estimativas da EPTC, o conjunto de intervenções na região deve reduzir em até 50% o tempo que os motoristas levam para percorrer o trecho (que, em horários de pico, atualmente passa dos 20 minutos). A expectativa é que os acidentes com feridos no local – somente neste ano, já aconteceram nove – diminuam 25%.
Passam pelo trecho entre a Avenida Tramandaí e o acesso ao Sétimo Céu, diariamente, cerca de 26 mil veículos. No transporte coletivo, são 40 mil passageiros por sentido entre as 7h e as 19h.
Sinalização precisa ser boa para o pedestre, dizem especialistas
Especialistas em trânsito acreditam que a iniciativa da prefeitura pode, de fato, melhorar o trânsito na zona sul de Porto Alegre. Professor de trânsito e transportes da Unisinos, Felipe Sousa diz que a alternativa, usada em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, pode apresentar resultados positivos quando bem sinalizada.
– Deviam ter feito antes até, está caindo de maduro, inclusive em outras vias. O único porém é a questão da segurança do pedestre, que precisa entender que a sinalização vai ser invertida, para não dar acidente. A sinalização é bem importante – avalia.
O especialista em trânsito Luiz Antônio Lindau também destaca a importância da sinalização e da informação sobre a mudança para quem anda a pé em trechos onde há faixas reversíveis. Ele acredita que a medida poderá ser avaliada como positiva se também facilitar a circulação dos coletivos – ao todo, 14 linhas de ônibus utilizam o trecho.
– Espero que isso não seja bom só para o carro. Ajudando o transporte coletivo, é bem-vindo – disse.