Em um seminário que fez um balanço do contexto e das ações tomadas após o vendaval que causou estragos em diversos bairros de Porto Alegre no fim de janeiro, o vice-prefeito Sebastião Melo admitiu que a cidade não estava preparada para um evento climático daquela natureza e destacou "lições" aprendidas com o temporal.
– Estávamos mal de podas. O vento fez o que Smam não fez nos últimos 10 anos – disse, durante o encontro que reuniu representantes de diferentes áreas afetadas pelo vendaval.
À época prefeito em exercício de Porto Alegre, Melo apontou outras deficiências da Capital, como a falta de geradores nas estações de bombeamento do Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae), que, sem luz, interromperam o fornecimento de água em diversos bairros.
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Descartada por diversas vezes pela prefeitura por custar 10 vezes mais do que o cabeamento aéreo, a fiação subterrânea deve voltar à pauta do poder público municipal, segundo o vice-prefeito. Os fios e cabos emaranhados foram problema em vários pontos após o vendaval.
O replantio das quase 3 mil árvores destruídas pela ventania deve ser feito com a ajuda de voluntários. As atividades, que serão acompanhadas pela Secretaria Municipal do Meio Amebiente (Smam), terão início após a retirada dos tocos das árvores danificadas. As primeiras mudas devem ser plantadas a partir de maio.
Há licitações encaminhadas para colocação de geradores em oito estações de bombeamento. A verba utilizada para a contratação dos serviços virá do governo federal, por meio do PAC Prevenção de Desastres Naturais.
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Lançado ao final da reunião, um Comitê de Mudanças Climáticas e Eficiência Energética (CMCEE) deve se reunir a partir de abril para discutir alternativas e soluções para que Porto Alegre, integrante do projeto 100 Cidades Resilientes, consiga cumprir a meta de se tornar uma cidade mais preventiva até 2022. O grupo, formado por integrantes da prefeitura e de entidades, tem como objetivo elaborar, até o fim de 2016, uma Política Municipal de Mudanças Climáticas.
Professor da UFRGS alerta para falhas em edificações
Durante o encontro, o diretor do Laboratório de Aerodinâmica das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o professor Acir Mércio Loredo-Souza chamou a atenção para a falta de exigência de projeto estrutural e de fachada pela prefeitura para novas edificações em Porto Alegre.
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Conforme o professor, uma norma nacional prevê que os edifícios devem estar preparados para resistirem, sem danos, a ventos que poderiam chegar, na Capital, a 165 km/h. O fato de muitas construções, inclusive de prédios públicos, terem sido avariadas pela ventania de janeiro, que chegou a 120 km/h, segundo Loredo-Souza, indica que a norma não tem sido cumprida.
– É um problema em todo o Brasil: muitas edificações não levam em conta a norma. Isso faz com que baste o evento certo para que elas ofereçam risco às pessoas. As prefeituras precisam exigir que seja seguida a norma, fiscalizar e punir quem não cumpre. É o básico – recomenda.
Conforme Sebastião Melo, a observação do professor será considerada pela prefeitura.