Geladeiras e freezers, coletes salva-vidas e pedaços de móveis hoje irreconhecíveis se amontoam onde funcionava o restaurante do Cisne Branco. Com 80% dos trabalhos de resgate concluídos e a proa praticamente fora da água, é possível ter uma ideia do estrago dentro da embarcação de passeio que afundou na tempestade de 29 de janeiro.
Tudo o que restou no barco ganhou a coloração marrom do Guaíba. Até mesmo o leme, que fica no terceiro andar. Uma cadeira de plástico acabou fincada na janela da cabine de comando e ali ficou – nada foi modificado desde que a embarcação foi completamente desvirada, segundo Adriane Hilbig, 53 anos, proprietária do barco. O trabalho de resgate foi iniciado há 46 dias.
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Adriane, que é filha de um dos idealizadores do Cisne Branco, assistiu à construção do barco quando criança e tinha apenas 14 anos quando começou a trabalhar nele: falava no microfone o nome das ilhas, soprados pelo comandante. Ela ainda não ganhou coragem para entrar no barco depois do incidente.
– Não tenho vontade de ver ele destruído, eu sei que não vai ficar nada lá dentro. Já chega a impotência que a gente sente aqui fora – diz.
A empresária acrescenta que, quando o barco estiver flutuando, entrará para decidir o que vai fora ou não. Acredita que isso será possível ainda nesta semana – se não houver novos contratempos. No começo, a ideia era terminar o resgate em cinco ou seis dias, mas algumas tentativas não tiveram resultado no tempo esperado.
– Agora, o barco está sem água na proa, mas a popa está baixa e não conseguimos levantar a parte de trás porque a balsa não é alta o suficiente. Estamos soldando "patas de elefante" com essa viga para puxar a popa da embarcação, milimetricamente, e colocar bombas de sucção no andar debaixo (da danceteria) – explica.
Adriane é cautelosa ao falar de valores e destaca que o custo da operação ainda não foi combinado. Em fevereiro, ZH adiantou que o preço estimado para resgatar a embarcação ficava em torno de R$ 1 milhão – mas a proprietária diz que não deve chegar a tanto. Depois que o barco estiver flutuando, começará a avaliação dos danos. Daí sim o prejuízo pode atingir os sete dígitos.
Depois de vistorias da Marinha, o Cisne Branco deve ser rebocado por água até Charqueadas ou São Jerônimo para conserto.
Barco aproximava morador do Guaíba
O Cisne Branco começou a ser construído em 1976 em um estaleiro da Ilha da Pintada e foi inaugurado dois anos depois, como um investimento inovador para o turismo da cidade. Amaro Jesus Lopes Pereira, 64 anos, que desenhou a embarcação e participou da sua construção, esteve no cais na manhã desta terça-feira para conferir os estragos pela primeira vez.
– Vim porque fiquei emocionado. Eu sempre acompanhei ele, como se fosse meu filho – conta.
Adriane destaca que recebeu mensagens de solidariedade de clientes de tudo o que é canto – inclusive de outros países, como Suécia, França e Estados Unidos. Quando pensou em desistir do Cisne Branco, foi isso que a motivou. A empresária estima que 1,5 milhão de pessoas já passearam no barco ao longo das quase quatro décadas que opera e destaca a importância que ele tem para o porto-alegrense:
– O Cisne virou um símbolo da cidade em função da relação que o porto-alegrense queria ter com o Guaíba, e que muitas vezes não tem. É uma forma de acessar o rio através de uma embarcação de passeio que já tem anos de história.
Como ajudar:
É possível fazer doações por meio de um site de "vaquinhas" online. O objetivo é juntar 950 mil e, até esta terça-feira, o valor arrecadado estava em torno de
R$ 13,7 mil.