No calendário dos foliões de Porto Alegre, a quarta-feira de cinzas foi ignorada, postergada e ainda deve tardar duas semanas para amanhecer. Essa festa fora de época ocorre no Carnaval de Rua, que neste sábado e domingo levou milhares de pessoas à Orla do Guaíba - inaugurando trecho inédito na Avenida Beira-Rio, da pista de skate do Parque Marinha do Brasil em direção ao estádio do Internacional.
Para o zelador Luiz Fernando Scherer, 54 anos, não há problema algum em brincar fora de época, como no Carnaval de Uruguaiana.
- Por mim teria Carnaval todo o mês - diz.
Leia mais:
Como foi no sábado: Carnaval de rua reúne 9 mil foliões na orla do Guaíba
Moradores da Cidade Baixa protestam contra Carnaval com faixas pretas
O folião garante que não perdeu nenhuma das edições que ocorreram na Cidade Baixa neste ano: dançou marchinhas vestido de diabo, pirata e leopardo. Neste domingo, inaugurou uma fantasia de Emília que ele mesmo confeccionou com um investimento de R$ 50,00 - não poupou em lantejoulas. A professora Juliana Machado Delayti, 31 anos, também aprova a ideia de prolongar o Carnaval. Porém, admite que sua preferência ainda é pelo evento na Cidade Baixa.
- Aqui o público fica meio disperso - lamenta.
Mas se o Carnaval da Orla ainda não conseguiu conquistar o coração de todos os foliões, pelo menos brinda eles com um dos pores do sol mais admirados do Rio Grande do Sul.
Programação
O próximo evento voltará à Cidade Baixa, com Galo de Porto e Banda DK no dia 5. A programação será encerrada em 12 de março, quando Turucutá e Bloco do Isopor comandarão a festa, também na Cidade Baixa.
Veja o que funcionou e o que não funcionou no segundo dia de evento na orla:
Funcionou
Lixeiras: além das cestas fixas ao longo da orla, havia latões de lixo a cada 70 metros, aproximadamente.
Animação: foi para agradar a todos. O bloco do Kiridão, acompanhado pela reportagem, fez o povo mostrar seu gingado com sambas-enredo de grandes escolas, relembrou aquelas músicas chicle com duplo sentido que todos sabem de cor, e tocou até padre Marcelo Rossi. Skafolia e Império da Lã também se apresentaram.
Atendimento médico móvel: uma ambulância acompanhava o trajeto dos blocos.
Alimentação: muitos vendedores ambulantes acompanhavam o trajeto. Os valores cobrados eram, em geral, razoáveis. A lata de refrigerante ficava em torno de R$ 4, a água, R$ 3, e a lata de cerveja, R$ 5. Também tinha pipoca e churros para vender.
Não funcionou
Concentração: a Secretaria da Juventude divulgou que o evento começaria às 14h, mas a primeira hora era destinada à concentração, e o bloco começou a se apresentar apenas depois das 16h. Com um sol forte e calor de quase 30°C, quem chegou antes buscou sombra no Parque Marinha do Brasil, o que contraria a recomendação da prefeitura de não frequentar a área em função do risco de queda de árvores que podem ter sido danificadas na tempestade de 29 de janeiro.
Mais ou menos
Público: demorou para a festa engrenar. No calorão das 16h, o público cabia na sombra do carro-elétrico. À medida que o sol baixava, o público aumentava bastante. Até o fechamento da reportagem, a Brigada Militar não havia divulgado os números oficiais - mas a organização estimava que mais de 20 mil pessoas prestigiaram.
Segurança: este é o quesito que mais preocupou os foliões.
- Fico meio receosa pela questão de furtos. Ontem uma amiga minha veio e roubaram o celular dela - conta a professora Andreia Ribeiro Mirandula, 47 anos.
Entre 16h e 18h30min, a reportagem avistou apenas uma viatura da polícia, que passou vagorosamente pelo canteiro da Avenida Beira-Rio.
Banheiros químicos: no trecho entre a pista de skate do parque Marinha e o cruzamento com a Rua Nestor Ludwig, havia cinco pontos com cinco banheiros químicos em cada. A reportagem observou filas nos primeiros banheiros, localizados mais perto da pista de skate.
Leia mais notícias de Porto Alegre