No filme Ela, Theodore, um homem solitário cujo trabalho é escrever cartas de amor para outras pessoas, se encanta pela voz do sistema operacional de seu computador. Não se trata de uma voz qualquer, mas a da atriz Scarlett Johansson. A voz tem nome - Samantha - e ela cuida de Theodore, acordando-o, organizando sua vida, ajudando-o a publicar um livro etc. O romance entre os dois brota de uma máquina que age como mediadora de afetos.
Samantha "descobre" a paixão aos poucos. No começo da relação, ela envia uma amante de carne e osso para Theodore, que não consegue consumar o ato com uma parceira real. Prefere a imaginação que brota dos doces sussurros de Samantha ao sexo presencial.
Se no início do filme Samantha lamenta a ausência de um corpo físico, aos poucos isso se torna uma qualidade, quando ela argumenta que "sendo apenas uma consciência, eu posso estar em vários lugares ao mesmo tempo". Mas, pressionada por Theodore, ela admite estar apaixonada e ter conversas simultâneas com outras 9 mil pessoas. Isso causa um sério abalo nele, que não imaginava ter que compartilhar sua amada com tantas outras pessoas.
A partir dessa ligação amorosa, o filme examina a relação entre os seres humanos modernos e suas réplicas. Desde Frankenstein até a moderna ficção científica, nos perguntamos quão "humanas" são as invenções de seres humanos. Outro ponto é saber se o criador consegue controlar a criatura ou se ela pode se tornar independente.
Tudo isso se torna mais complexo quando a relação envolve sexo. Bonecas e bonecos sexuais estão se tornando cada vez mais sofisticados e parecidos com seres humanos. Isso inclui formato, tessitura, cheiro etc. Algumas companhias procuram dotar seus produtos de inteligência e capacidade de se comunicar. Eles estariam, assim, mais parecidos com robôs que com bonecos.
A empresa norte-americana True Companion reivindica ser a primeira companhia do mundo a oferecer robôs sexuais. Há modelos femininos e masculinos. O preço desses utensílios pode chegar a US$ 7 mil, mas como todo produto novo, com o tempo a tendência é seu barateamento.
Roxxxy, o modelo feminino, mexe a cabeça e diz "Estou tão excitada" quando tem os seios tocados. Os clientes podem customizar suas características físicas e escolher cinco tipos de personalidades, desde a mais comportada à mais ousada. Seus orifícios possuem sensores e motores para tornar a experiência mais próxima da realidade. A versão masculina de Roxxxy chama-se Rocky. Ele é descrito como tendo "um corpo fantástico e uma personalidade brilhante".
Segundo o site da True Companion, a maior qualidade de Roxxxy é que ela está sempre disposta a "conversar ou brincar". E a personalidade dela é projetada para se adequar à personalidade do dono. Ela sabe falar sobre vários assuntos, desde futebol até investimentos no mercado de capitais. Já Rocky é descrito como "um homem focado em fazer você feliz". E, o que é mais importante, ao contrário dos seres humanos, tanto Roxxxy como Rocky têm um botão que permite ligá-los e desligá-los.
O que faz com que esses produtos tenham um mercado florescente? Há várias conjeturas. Uma tem a ver com o fato de que atualmente há um número maior de pessoas que vivem sozinhas e que sofrem de solidão. Um robô ajuda a preencher o vazio, pelo menos o da cama. E com ele, não é preciso lidar com a baixa autoestima, o medo da rejeição, a ansiedade de falhar.
Além disso, em sociedades onde há um individualismo crescente as pessoas querem que suas vontades sejam atendidas imediatamente e do modo como fantasiam. A satisfação individual torna-se uma busca imperiosa do comportamento humano. Isso obviamente vale também para os desejos sexuais. Robôs não reclamam de seu desempenho, nem cobram sexo quando você não está a fim. Também não abandonam o parceiro ou a parceira. Você é o senhor absoluto da situação. Essa sensação de controle e dominação faz parte do jogo.
Sexo com robôs provoca controvérsias. A pesquisadora em ética robótica Kathleen Richardson da Universidade De Monfort na Inglaterra lançou a campanha "Não faça sexo com robôs", argumentando que o uso dessa tecnologia é desnecessário e indesejável. É difícil saber o resultado de seu esforço. Se, para ela, sexo precisa estar acompanhado de amor, para outros, sexo sem amor existe desde os primórdios da humanidade. Para estes, o sexo com robôs é tão válido como usar utensílios sexuais disponíveis em lojas de produtos eróticos.
Controvérsias à parte, há uma série de serviços baseados em tecnologias que eram vistos com desconfiança quando surgiram, mas que hoje são aceitos. Exemplo são as psicoterapias por Skype e os sites de relacionamento. Estes últimos causavam estranheza àquelas pessoas que achavam que precisamos encontrar nossa cara-metade ao vivo e a cores. Hoje, todos conhecem casais que se formaram a partir da internet. Estes são exemplos de relacionamentos humanos mediados pelas tecnologias modernas.
Robôs, entretanto, são apenas máquinas programadas. Já os seres humanos, além de carne e ossos, se caracterizam por serem únicos e imprevisíveis. É justamente isso que os torna excitantes.
*Ruben George Oliven escreve mensalmente no Caderno PrOA.
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