Todo mundo que eu conheço tem algum fascínio por dinossauros. A reconstituição aproximada das diferentes espécies cujos esqueletos fossilizados foram recuperados rendeu imagens que lembram seres mitológicos, muito diferentes de tudo o que existe hoje em dia. Imaginar como era a vida naqueles tempos é sempre um convite ao devaneio. Na verdade, podemos fazer mais do que imaginar. Temos muitas informações sobre a vida há 200 milhões de anos atrás - o famoso período Jurássico. Colegas nerds como eu sabem que na verdade o nome do filme deveria ser Parque Cretáceo (mais recente, entre 145 e 60 milhões de anos atrás), que foi quando os dinos dominavam mesmo. Mas Jurassic Park realmente soa mais bonito.
Triássico, Jurássico e Cretáceo foram os períodos geológicos da Era Mesozoica - que durou uns 186 milhões de anos - também chamada Era dos Répteis, pois esse foi o período em que houve a maior diversidade de espécies deste grupo. Sabemos que as plantas com flores apareceram já quase no finalzinho do Cretáceo, e que alguns milhões de anos após, os dinossauros foram extintos. Como concluiu, surpresa, uma amiga minha, provavelmente poucos dinossauros conseguiram ver alguma florzinha em suas vidas. Outra amiga lembrou que as aves são os dinossauros atuais, então essas já viram mais florzinhas...
A hipótese de que a colisão com um grande meteorito causou a extinção de dinossauros e muitas outras espécies é apoiada pelo grande depósito geológico global de irídio - um minério comum em meteoritos, mas extremamente raro na Terra - na mesma época, e pela famosa cratera de Chicxulub, no Golfo do México, ambos datados de 66 milhões de anos atrás. O planeta é como se fosse uma cebola, com várias camadas. As eras geológicas são determinadas de acordo com o que fica preservado em cada camada. Fósseis de animais e plantas que coexistiram estarão preservados conjuntamente, nos dando uma ideia de quais espécies eram mais abundantes em que período. Mas não ficam preservados apenas seres vivos - a análise geoquímica ajuda a compreender a composição do ar atmosférico, e de como as espécies existentes modificavam o ambiente.
Depois da Era dos Répteis, veio a Era dos Mamíferos, iniciada há 66 milhões de anos. O gênero Homo surgiu nos últimos 2 milhões de anos, sendo que a nossa espécie, Homo sapiens, há 200 mil anos. Semana passada, a revista Science publicou um artigo que revisa as evidências de que o registro geológico já mostra o impacto dos humanos na Terra. Os fósseis de humanos serão acompanhados da preservação de materiais novos, criados pelo homem, como plástico, fibras sintéticas, alumínio, concreto - os tecnofósseis. A queima de combustível fóssil (contradição!) é documentada na preservação de esferas de cinza inorgânica e partículas esféricas carbonáceas, coincidindo com alterações na taxa de sedimentação devido ao desmatamento e à construção de estradas. Com isótopos modificados de chumbo, adicionados à gasolina. Plutônio - das bombas nucleares - também já foi detectado. Tudo coincidindo com o aumento da concentração de gás carbônico, desde os anos 1800, a elevação da temperatura, a alteração das taxas de oxigênio e nitrogênio. Acompanhados pela extinção de muitas espécies. Este período está sendo chamado de Antropoceno - a Era do Homem.
Hoje, analisando o registro fóssil, concluímos que as cianobactérias modificaram para sempre a atmosfera do planeta há mais de 3.5 bilhões de anos, gerando o oxigênio que agora (ou ainda?) respiramos. E filosofamos que foi um acidente, pois as bactérias não sabiam o que estavam fazendo. Já nós temos plena consciência. Chegar a um ponto onde o planeta não mais sustente a vida humana é cada vez mais possível. Não consigo deixar de imaginar uma espécie alienígena aterrissando daqui a centenas de milhões de anos, achando um planeta quente, cheio de gás carbônico que para eles talvez seja o máximo. Eles felizes, estudando o registro fóssil e dizendo olha só, devemos este feliz acidente a esta espécie aqui dos plásticos e da radioatividade. Como será que era a vida deles? Como será que se extinguiram?
Pode acontecer? Depende, muito, de nós.
*Cristina Bonorino escreve mensalmente no Caderno PrOA.
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