A manifestação dos rodoviários pelo reajuste de salários e vale-alimentação, na manhã desta quinta-feira, em Porto Alegre, deve ser um dos episódios iniciais de uma novela que, se seguir a tendência dos últimos anos, poderá levar semanas até ter seu desfecho.
Na tarde desta quinta-feira, empresas de ônibus de Porto Alegre se reúnem para discutir o pedido feito pela categoria - de reajuste de 15% no salário e aumento no vale-refeição de R$ 21 para R$ 25. De acordo com o advogado do Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa), Alceu Machado, "provavelmente" os rodoviários serão chamados para uma reunião na próxima segunda-feira. E adiantou:
- Evidentemente, não há como atingir os 15% de reajuste que a categoria pede, é uma estratégia de negociação. Na primeira reunião, tivemos um bom diálogo e, na seguinte, deveremos avançar em algum ponto. Só temos que lembrar que esse dissídio se dá exatamente na transposição de um sistema antigo de transporte para um novo, com a nova concessão. Temos que lidar com muita responsabilidade - afirma Machado.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre, Adair da Silva, a categoria está com a assembleia "em aberto", que poderá ser convocada a qualquer instante. Eles aguardam, no entanto, uma posição das empresas de ônibus em relação à reivindicação levada às ruas nesta quinta.
- Vamos esperar nos chamarem para mais uma conversa. Mandamos a pauta, que tem alguns pontos principais e outros de que abrimos mão. Vamos ver se eles vão nos respeitar agora, na próxima proposta. Se vamos ter algo mais concreto para poder chamar a assembleia. Agora, se eles chegarem propondo reajuste de 9% e de R$ 1 no vale-refeição, vamos para as ruas de novo - garante o presidente.
Diferentemente do que diz o advogado das empresas de ônibus e a EPTC, o presidente dos rodoviários defende que o pedido de reajuste salarial da categoria não tem impacto direto sobre o aumento no preço da passagem dos coletivos:
- O aumento do preço da passagem tem a ver com a prefeitura e a patronal (as empresas). O aumento da tarifa foi feito na licitação, já tem um cálculo que foi feito com a frota nova. A tarifa não tem nada a ver com os rodoviários. Que não venham jogar sobre nós essa responsabilidade.
A mudança nos salários dos rodoviários, porém, terá impacto direto sobre o valor da passagem de ônibus na Capital. O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, diz que os vencimentos dos rodoviários representam 50% da tarifa. Por esse motivo, segundo o titular da EPTC, só será possível estimar o novo valor após o dissídio. O preço da passagem previsto em julho de 2015 na assinatura da nova licitação, R$ 3,46, deve subir. Além do acréscimo pelo reajuste dos salários, será feita a correção da inflação para o período.
A negociação nos anos anteriores
- Em 2015, desde que a pauta de reivindicações da categoria foi protocolada até o momento em que foi aprovado o reajuste de 8% no salário dos rodoviários, passaram-se mais de três semanas.
- Em 2014, diante da falta de acordo com as empresas de ônibus, rodoviários entraram em greve em 23 de janeiro. O impasse teve de ser resolvido na Justiça que, em 17 de fevereiro, aprovou aumento salarial de 7,5% para os rodoviários.